Está interessado em fazer um teste de Rorschach cósmico? Incline a cabeça para o lado. Se vê um par de olhos brilhantes na obscuridade do espaço, está a ver o mesmo que uma equipa de astrónomos identificou em 2016: uma formação rara criada pela fricção de duas galáxias espirais.

Texto Jeremy Berlin   Fotografia M. Kaufman, ALMA (ESO/NAOJ/NRAO); NASA/ Telescópio Espacial Hubble da ESA.

Nesta imagem, o azul representa os dados recolhidos pelo Telescópio Espacial Hubble. O vermelho é monóxido de carbono visualizado pelo ALMA.

Este tipo de colisão de galáxias não é invulgar, explica a cientista Michele Kaufman. Mas as formas geradas por elas são mais raras. Neste caso, o campo gravitacional da NGC 2207 produz ondas na companheira IC 2163, à semelhança do que a Lua faz sobre a Terra. Gás e estrelas nas extremidades da IC 2163 deslocam-se velozmente para o interior. De seguida, a onda de material desacelera abruptamente criando duas “pálpebras”.

O campo gravitacional da NGC 2207 produz ondas na companheira IC 2163, à semelhança do que a Lua faz sobre a Terra.

O ALMA, telescópio chileno de grande capacidade, ajudou esta equipa a entender o que os computadores já tinham modelado. “Assim que vi estes dados em alta resolução, percebi que eles nos mostravam pela primeira vez como se forma esta estrutura”, diz Michele Kaufman.
Naturalmente, a razão pela qual identificamos estas formas como olhos não tem nada que ver com telescópios. Deve-se à pareidolia, fenómeno psicológico que nos permite apreender formas familiares onde estas não existem. Os olhos celestiais desta página estão a 114 milhões de anos-luz de distância.

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