Carl Sagan, em carta ao editor, em 1967: “Deixemo-lo [ao marciano] encontrar o seu caminho durante o dia com os pequenos tentáculos vermelhos e à noite ele cavará um buraco.”

Texto Natasha Daly   Pintura Douglas S. Chaffee

 

A ilustração final satisfez Sagan: os estranhos membros da criatura adequavam-se à baixa gravidade de Marte, a carapaça envidraçada protegia-a da radiação ultravioleta

Carl Sagan passou a infância imerso em Marte. O futuro cientista era um ávido leitor dos livros de ficção científica de Edgar Rice Burroughs e passava noites deitado na relva a olhar para o céu “a imaginar-me naquele lugar vermelho cintilante”. Imaginava os marcianos com corpos coloridos (o planeta imaginado por Burroughs tinha mais duas cores do que a Terra), com cabeças removíveis mas definitivamente com formas humanas. “Na altura, não percebi como era chauvinista imaginar que outros planetas teriam formas de vida iguais às nossas.”

Em 1967, o astrónomo escreveu uma reportagem para a National Geographic que explorava a possibilidade de vida em Marte. A reportagem incluía uma representação teórica de um marciano, à qual dedicou muita atenção.

Em 1965, as fotografias captadas pela primeira missão a Marte mostravam apenas rocha. Foi um soco no estômago. O “New York Times” declarou Marte como um planeta morto. “A extravagante megafauna marciana foi varrida para o esquecimento”, escreveu John Updike anos depois nesta revista. Carl Sagan não estava convencido: as fotografias tinham grão, eram inconclusivas e mostravam apenas 1% do planeta.
Em 1967, o astrónomo escreveu uma reportagem para a National Geographic que explorava a possibilidade de vida em Marte. A reportagem incluía uma representação teórica de um marciano, à qual dedicou muita atenção. Em correspondência com os editores, Carl Sagan expressou a sua consternação relativamente ao rascunho inicial da ilustração, dizendo que o marciano se assemelhava a “um homem vestido com um fato de tartaruga”. Sagan imaginava “um marciano benigno e vegetariano” sem olhos. “Deixemo-lo encontrar o seu caminho durante o dia com os pequenos tentáculos vermelhos e à noite ele cavará um buraco.”
A ilustração final (em cima) satisfez Sagan: os estranhos membros da criatura adequavam-se à baixa gravidade de Marte, a carapaça envidraçada protegia-a da radiação ultravioleta. A ilustração é uma homenagem ao que Carl Sagan imaginou enquanto jovem. Em 1996, pouco antes de morrer, Carl Sagan gravou uma mensagem para os futuros exploradores de Marte: “Seja qual for a razão pela qual se encontram em Marte, estou feliz por estarem aí. E gostava de estar convosco.”

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