Texto: Rachel Hartigan Shea
Sunita Williams partiu do princípio de que as séries de ficção científica anunciavam um futuro em que as viagens espaciais seriam rotineiras, mas nunca imaginou que viria a ser uma das pioneiras.
Antiga piloto da Marinha dos EUA, aos 47 anos já passou 322 dias no espaço e caminhou durante 50 horas, o mais longo tempo de caminhada até hoje realizado por uma mulher astronauta. Travou pela primeira vez conhecimento com astronautas há duas décadas, quando frequentava a escola de pilotos de testes e descobriu que, com a sua experiência de voo, podia juntar-se ao grupo. Agora que é membro do corpo de astronautas, garante que não quer fazer outra coisa.
Qual o aspecto mais impressionante das caminhadas no espaço?
A perspectiva. Andar lá por cima e ver as auroras boreais debaixo dos pés.
Faz medo?
Na minha primeira caminhada [em 2006], houve um problema com um painel de células solares que precisámos de inspeccionar. Quando comecei a subir [pelo braço que unia o painel à estação], senti-me como se estivesse a trepar por um arranha-céus. Tive de me acalmar. Fixei o corpo a um ponto fixo e larguei as mãos para provar a mim mesma que estava segura. No espaço, basta fechar os olhos e consegue-se virar por completo o quadro de referência. Lembrei-me da formação que tínhamos feito na piscina, trepando lateralmente pelo equipamento e tentei mentalizar-me para isso.
O que costuma fazer para manter o contacto com o mundo real, enquanto vive no espaço?
No meu primeiro voo, flutuava até à extremidade [russa] da estação espacial, porque só havia uma casa de banho na época. A cosmonauta Misha Tyurin perguntava-me: “Posso oferecer-lhe chá?” Sentávamo-nos, ou flutuávamos, ou outra coisa qualquer, durante cinco ou dez minutos, a beber chá e simplesmente a conversar sobre a vida.
Praticou triatlo espacial, fazendo passadeira e bicicleta, mas como nadava?
[Para imitar] a natação, fazia 15 exercícios. Duravam cerca de vinte minutos, o tempo que nado habitualmente.
E o que vai fazer a seguir?
Mais tarde ou mais cedo, gostaria de leccionar ciências no ensino secundário.
Mas adoraria assistir ao envio da próxima nave espacial norte-americana. Seria seguramente voluntária para o cargo de piloto de testes.