Este cérebro doado pertenceu a um homem com 101 anos e é maior do que o cérebro típico dos seus contemporâneos. Dizem que foi um homem sagaz até ao dia da sua morte.
Há falta de cérebros, não há outra forma de o dizer.
Os neurocientistas precisam de tecido cerebral para estudar doenças que afectam mais de 15% da população mundial. É aqui que entra Tish Hevel. Em 2015, depois de o pai ter morrido com uma forma de demência, a família quis doar o seu cérebro para pesquisa, sabendo que era preciso muito mais do que um simples cartão de dador.
A experiência inspirou Tish Hevel a criar o Projecto Dador de Cérebro (Brain Donor Project) “para sensibilizar para esta necessidade crítica” e tornar a inscrição mais fácil aos possíveis dadores. Quase dois anos depois, mais de duas mil pessoas inscreveram-se.
Acabar com os mitos sobre doação de cérebros
A organização fundada por Tish Hevel (braindonorproject.org) visa simplificar “o processo de doação de cérebros humanos post mortem para pesquisa” e para desfazer equívocos. Eis o que precisa de saber.
1. Dador de órgãos
Se transporta um cartão de dador de órgãos, parabéns: teve um gesto nobre. Mas nem todos os órgãos estão incluídos. O coração, córneas e pâncreas podem ser transplantados, mas o seu cérebro fica consigo, excepto se cumprir os procedimentos complementares necessários.
2. Cérebros Sãos
O estado em que o seu cérebro se encontra no momento da doação é imprevisível, mas só certas condições ou doenças infecciosas anulam a oferta.
A ciência precisa de cérebros de todos os tipos, já que uma parte importante do processo de investigação é a comparação entre órgãos doentes e saudáveis.
3. Caixão Aberto
Muitos temem que a remoção do cérebro deteriore o aspecto do defunto. Tal não sucede: o cérebro é retirado por uma incisão na nuca e «não desfigura», confirma Hevel.
4. O Custo
Nos Estados Unidos, as famílias que doarem um cérebro a um dos bancos cerebrais dos seis Institutos Nacionais de Saúde ficam isentas de qualquer custo relativo à recuperação, doação e armazenamento.
5. O Calendário
O tempo é essencial se doou o cérebro à ciência. Os patologistas têm de recolher o cérebro 24 horas após a morte e preferem colher o tecido o mais rapidamente possível. Por esse motivo, é importante que as famílias estejam informadas da decisão de doação e da forma como essa decisão deve ser concretizada.
6. A Inscrição
O processo de doação não é complicado e está descrito em braindonorproject.org. É necessário preencher vários formulários que devem ser devolvidos por correio electrónico ou postal. Basta isso para preparar a doação daquilo que Tish considera ser o “recurso mais precioso”.