Primeira imagem directa confirmada de um planeta extra-solar: 2M1207.
Denominado TOI-733b, encontra-se a “apenas” 245 anos-luz de distância e a sua raridade permite entender melhor um mistério sobre o tamanho dos exoplanetas.
Texto: Sergio Parra
Um novo estudo publicado na revista “Astronomy & Astrophysics” descreve a surpreendente descoberta de um planeta raro, denominado TOI-733b, situado a 245 anos-luz de distância.
Este mundo, com pouco menos do dobro do raio da Terra, orbita uma estrela ligeiramente mais pequena do que o Sol, com um período de 4,9 dias. As medições da sua densidade sugerem que pode ter perdido a sua atmosfera ou ser um mundo aquático coberto por um oceano.
Contudo, o TOI-733b tem uma órbita tão próxima da sua estrela que é provável que o calor desta provoque a evaporação da sua atmosfera, o que significa que, num espaço de tempo relativamente curto, este planeta poderá transformar-se numa rocha seca e desprovida de atmosfera.
Mais denso do que Marte, mas menos do que a Terra
O TOI-733b possui uma densidade de 3,98 gramas por centímetro cúbico – ligeiramente superior à densidade de Marte e inferior à da Terra, que é de 5,51 gramas por centímetro cúbico.
Embora não se conheça a composição exacta de TOI-733b, a equipa responsável pela descoberta criou um modelo e verificou que se o exoplaneta alguma vez teve uma atmosfera de hidrogénio e hélio semelhante à de Neptuno, é provável que a tenha perdido. Nesse caso, porém, o exoplaneta teria formado uma atmosfera secundária composta por elementos mais pesados.
Outra possibilidade é que TOI-733b seja um mundo oceânico. Neste cenário, embora tenha perdido o seu hidrogénio e hélio, a atmosfera remanescente seria rica em vapor de água, que é mais resistente aos processos de evaporação. Assim sendo, o exoplaneta não teria sofrido uma perda significativa de massa atmosférica.
Um exoplaneta raro
Desde a descoberta dos primeiros exoplanetas, na década de 1990, foram descobertos e confirmados mais de 5.300 exoplanetas, para além de milhares de possíveis candidatos. Isto permite-nos começar a identificar certos padrões.
Alguns destes padrões estão associados aos métodos utilizados para procurar exoplanetas: os principais são o trânsito e a velocidade radial.
O método do trânsito analisa as subtis alterações na luz das estrelas quando um exoplaneta em órbita se interpõe entre nós e a sua estrela. As medições da velocidade radial detectam as minúsculas alterações no comprimento de onda da luz estelar causadas pela atracção gravitacional exercida pelo exoplaneta na estrela.
Ambos os métodos são mais eficazes para descobrir planetas grandes em órbitas próximas, sendo estes a maioria dos exoplanetas encontrados.
Contudo, descobriram-se poucos mundos que se encontrem entre a categoria de super-Terras, com até 1,5 raios terrestres, e a dos mini-Neptunos, com mais de dois raios terrestres. Não sabemos a que se deve esta lacuna, mas as evidências recentes começam a acumular-se a favor da teoria de mini-Neptunos em processo de encolhimento: planetas que perdem as suas atmosferas devido ao calor intenso das suas estrelas, transformando-se em núcleos mais pequenos, despidos e desgastados pela erosão, com um raio próximo do limite inferior.
A descoberta do raro TOI-733b poderia servir para sustentar esta hipótese. Contudo, ainda não há 100 por cento de certezas se a estrela é a responsável pela perda de massa ou se tal se deve ao processo interno, impulsionado pelo calor que escapa do núcleo do exoplaneta.
Em qualquer dos casos, se conseguirmos encontrar uma quantidade considerável de mundos que estejam a atravessar este processo, os astrónomos planetários poderão analisá-los a fim de compreender melhor o motivo desta peculiar lacuna no tamanho dos exoplanetas.
Artigo publicado originalmente em castelhano em nationalgeographic.com.es