Para criar uma espada laser seria necessário cristalizar fotões e contê-los em algum tipo de invólucro, o que a impediria de cortar objectos. Fotografia de Istock / Michael Derrer Fuchs.
Um dos elementos mais icónicos da “Guerra das Estrelas” são os sabres de luz, a arma dos cavaleiros Jedi. Será cientificamente possível fabricar um? A resposta é que já se fabricou… mais ou menos.
Texto: Abel G.M.
“Uma arma elegante para tempos mais civilizados”. O sabre de luz, a arma típica dos cavaleiros Jedi, é um dos elementos mais icónicos da “Guerra das Estrelas”. Todos os fãs da saga se perguntaram, pelo menos uma vez na vida, se seria possível fabricar um de verdade. A resposta pode ser inesperada: já se fabricou… “de um certo ponto de vista”, como diria a personagem Obi-Wan Kenobi.
O que é (cientificamente) um sabre de luz e como seria possível fabricá-lo
Antes de mais, convém esclarecer que os sabres de luz da “Guerra das Estrelas” (tal como definidos pelo termo original lightsaber) não são espadas laser, no sentido em que não se baseiam nessa tecnologia tal como a conhecemos, embora aparentem algumas semelhanças. Fabricar algo parecido com uma espada laser é inviável com a tecnologia actual, embora não seja de todo impossível – em teoria.
A dificuldade reside no facto de um laser ser, essencialmente, um dispositivo que concentra a luz numa faixa espacial muito estreita, criando um feixe de radiação de alta energia visualmente parecido com um fio. No entanto, um feixe laser não tem massa, por isso não é possível (em princípio) criar uma lâmina física como a de uma espada. Para tal, seria necessário transformar a energia em matéria, para que o feixe gerado pelo laser se detivesse no espaço e adquirisse um comprimento mínimo de um metro.
Fotografia de Karlehorn (CC).
Para o conseguir, seria necessário “congelar” os fotões, ou seja, as partículas portadoras de radiação. Em traços gerais, seria o mesmo que tentar deter a luz e dar-lhe uma forma concreta. Isso já foi feito em laboratório: em 2014, investigadores da Universidade de Princeton (Estados Unidos da América) conseguiram “cristalizar” fotões e convertê-los para o estado sólido. Hakan Türeci, um dos membros da equipa, explicou que tinham provocado “uma situação em que a luz se comporta efectivamente como uma partícula, para que dois fotões pudessem interagir com força”.
Contudo, uma coisa é cristalizar alguns fotões num laboratório e outra é criar um dispositivo portátil que crie uma lâmina de luz a partir deles, algo que, por enquanto, continua a pertencer ao reino da ficção científica. Mesmo que tal fosse possível, existiria outro problema: seria necessário algum tipo de invólucro físico, como vidro, para conter o laser sólido. Este invólucro isolaria a energia no interior de um “recipiente”, impossibilitando-o, por isso, de cortar algo como se fosse uma espada, destituindo-a assim da sua função.
A alternativa viável: espadas de plasma
Uma alternativa mais viável e que efectivamente já se concretizou é uma espada de plasma. O plasma é um estado da matéria e, por isso, não possui naturalmente massa. Isso não significa que criar uma arma de plasma seja fácil. O engenheiro James Hobson, conhecido pelo seu canal de YouTube “Hacksmith Industries”, explica neste vídeo como conseguiu criar a arma mais parecida com um sabre de luz que existe até agora:
Este engenheiro canadiano conseguiu criar uma lâmina de plasma com uma mistura de propano líquido e oxigénio. Um gerador instalado numa mochila cria um fluxo concentrado de gás que dá origem ao plasma, o qual é canalizado através de um tubo até um punho de titânio fabricado com uma impressora 3D. O punho possui, na sua extremidade, uma boquilha de gás em vidro, uma ferramenta utilizada na indústria do vidro soprado, com a qual é possível obter uma lâmina de plasma com o comprimento desejado ajustando a potência.
Hobson chamou “proto-sabre” à sua invenção, que cumpre quase todos os requisitos dos sabres de luz da “Guerra das Estrelas”: a lâmina é retráctil e pode cortar aço, uma vez que alcança temperaturas superiores a 2.000°C. “Reluz como um sabre de luz, soa como um sabre de luz e pode cortar coisas como um sabre de luz”.
Hobson também conseguiu criar lâminas de diferentes cores, acrescentando determinados compostos químicos à mistura de gases, bem como algumas variantes mais complicadas, como o estranho punho com lâminas laterais de Kylo Ren na última trilogia da saga. Hobson e os seus colaboradores chegaram a tentar usá-los num “duelo real, que foi certamente muito pouco seguro”.
Ainda falta algo importante à invenção para ser prática, pois, por enquanto, depende do gerador instalado na mochila. Segundo Hobson, para criar um sabre de luz autónomo seria necessária uma pilha de tipo D, capaz de gerar mais energia do que uma central nuclear. Mesmo assim, a sua invenção granjeou-lhe um Recorde do Guinness em Dezembro de 2020, pela criação da “primeira proto-espada de luz retráctil”, a qual, nas palavras do velho Obi-Wan Kenobi, é “o primeiro rumo a um mundo mais vasto”.
O proto-sabre de James Hobson cumpre quase todos os requisitos de uma espada de luz, excepto possuir uma fonte de energia autónoma.