Em Janeiro de 2014, a costa portuguesa foi violentamente afectada por tempestades. Uma dessas intempéries teve um efeito secundário inesperado…
Texto e Fotografia João Nunes da Silva
Alguns números do espantoso achado da praia de Belinho: 951 fragmentos de cerâmica anfórica, 21 pelouros, 63 madeiras, 52 peças de liga de cobre, 231 de estanho, 65 de chumbo, 21 pedras exógenas (provavelmente oriundas do lastro), 1 sovela (ou agulha), 1 prego, 1 bala de mosquete, 24 aros em conexão.
Esse efeito foi um inédito achado arqueológico posto a descoberto na praia de Belinho em Esposende, resultado de um ou dois antigos naufrágios. Entre as mais de mil peças e fragmentos, destacam-se pratos de diversas dimensões, escudelas, castiçais, pelouros, restos de uma provável espada e cota de malha. Diversos madeirames de embarcação (o maior com nove metros de comprimento) e cerâmica anfórica da época romana (provavelmente proveniente de um depósito na própria praia) estão incluídos no espólio encontrado por habitantes locais numa caminhada matinal.
O material não é incomum, mas o contexto do naufrágio e a quantidade e diversidade são inéditos no país.
Não se sabe ainda qual o país de origem do navio, mas, segundo Ana Almeida, arqueóloga do município de Esposende, algumas investigações anteriores e a comparação com peças já conhecidas permitem concluir que “pertencem à época moderna, eventualmente aos séculos XVI ou XVII”. O material não é incomum, mas o contexto do naufrágio e a quantidade e diversidade são inéditos no país. Dada a importância da descoberta, está em desenvolvimento um projecto em rede sobre o sítio arqueológico da praia de Belinho, procurando nos diversos parceiros a inovação ao nível da investigação, valorização e e divulgação destes achados, como disto é exemplo o projecto europeu ITN Marie Curie “ForSEADiscovery” no qual se procurará determinar a idade exacta, o tipo e proveniência das madeiras.