Os monumentos megalíticos como os da serra da Aboboreira (em cima) permitem uma aproximação à demografia e sociedade dos seus construtores. Através da estimativa do número de adultos necessários ao transporte das pedras e respectiva construção, é possível calcular a dimensão da população numa determinada fase da pré-história.
Quantas pessoas viveriam na serra da Aboboreira na pré-história? Segundo Carla Stockler, do Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira (CASA), cada geração deveria comportar uma média de 140 indivíduos. A estimativa resulta da aplicação de fórmulas que permitiram calcular a quantidade de indivíduos implicados na construção de cada um dos quarenta monumentos megalíticos disseminados pela região ao longo de sucessivas gerações. Durante dois milénios e cerca de oitenta gerações, construiu-se aqui uma das maiores necrópoles megalíticas do país.





Técnicas de construção: As representações ilustram dois dos sistemas possíveis para transportar e erguer os blocos de granito.
A inferência não é consensual. Nos maiores megálitos, há arqueólogos que defendem que terá sido necessário um esforço coordenado de dezenas de pessoas para erguer os blocos graníticos que lhes dão forma. Mesmo o sistema de deslocamento das pedras não é consensual: elas poderão ter sido arrastadas sobre o solo, puxadas sobre troncos de madeira ou transportadas através de alavancas.
No primeiro caso, seriam necessários cerca de 16 homens por cada tonelada; no segundo, talvez apenas seis; e no terceiro, dois.
Mas as técnicas de construção não são exclusivas.
Para Vítor Oliveira Jorge, pioneiro da arqueologia social dos sepulcros da serra da Aboboreira, as alavancas não foram consideradas.
Em contrapartida, o arqueólogo Joel Cleto, do CASA, defende que elas poderão ter sido utilizadas em alguns megálitos da Aboboreira. A ser assim, muito antes de Arquimedes ter enunciado o princípio da alavanca (“dai-me uma alavanca e um ponto de apoio adequado e eu moverei a Terra”), já o homem pré-histórico aplicaria o postulado.