Estes retratos radiosos mostram as mulheres como elas querem ser vistas
10 de Fevereiro de 2023
Mbabazi, à esquerda, conversa com Ayaa no estúdio fotográfico improvisado em Gulu, no Uganda.
Num centro para mulheres com necessidades especiais no Uganda, uma fotógrafa perguntou às mulheres como queriam ser retratadas: capazes, iguais e inteligentes, disseram-lhe.
Durante vários anos, a abordagem de Esther Ruth Mbabazi à fotografia foi passar despercebida. Ser invisível. Não influenciar a cena. Então, em 2019 a ugandesa de 28 anos teve a oportunidade de fazer exatamente o contrário.
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Ugandesas como Nancy Ayaa, que nasceu com uma deficiência cognitiva, visitam o Gulu Women With Disabilities Union para aprenderem novas competências, fazerem amigos e, em algumas ocasiões, posarem como modelos.
Aos 4, anos Florence Akwede perdeu a capacidade de falar e ouvir. Gosta muito de conhecer pessoas e os seus filhos ajudam-na a interagir através de linguagem gestual.
Faith Lagum, que é cega, diz: “Tem sido uma vida muito difícil”. Porém, ela encontra alegria gravando canções e cantando em palcos locais.
Joyce Auma, que usa uma cadeira de rodas, tem sido obrigada a navegar num mundo concebido para pessoas sem deficiências.
Irene Odwar Laker perdeu a perna aos 16 anos, ao pisar uma mina terrestre enquanto tentava fugir de rebeldes do Exército da Resistência do Senhor. Hoje sustenta os seus dois filhos com o dinheiro que ganha a tricotar, a gerir uma pequena loja e a entrançar cabelo.
Um episódio de malária na infância deixou Miriam Apio com deficiências cognitivas e ela tem combatido uma depressão. Apio descobriu um sentido de missão tricotando camisolas para a sua comunidade num projecto gerido pelo centro.
Desde os 5 anos, Flavia Lanyero já foi submetida a onze cirurgias para uma infecção que lhe ataca os ossos da perna e do braço. Embora tema que a sua condição a mantenha afastada do mercado de trabalho, está a estudar estudos bancários na esperança de arranjar emprego.
No seu tempo livre, Lanyero gosta de ouvir música, fazer cerâmica e pintar. Ela fez este retrato para representar os desafios que tem em lidar com as suas dificuldades físicas e a sua vontade de lutar para ser tratada como igual.
Interagir com o mundo pode ser difícil para Akwede, que tem problemas de comunicação. A comunidade inclusiva do Gulu Women With Disabilities Union tem sido um antídoto eficaz.
Apio, que enfrenta desafios semelhantes, diz ser frequentemente deixada à margem de actividades nas quais gostaria de participar, mas também encontrou camaradagem entre os membros do centro.
Auma diz que o centro a apoiou após o nascimento dos seus dois filhos, quando os cuidados hospitalares insuficientes se revelaram insuficientes.
Quando não está a ganhar a vida lavando roupa, Ayaa passa os dias a tricotar com as suas amigas do centro.
Foi então que Mbabazi tomou conhecimento do Gulu Women With Disabilities Union, um centro vocacional e social situado numa pequena cidade no norte do Uganda. Ao longo de um ano fez quatro viagens a Gulu e fotografou mulheres que ali conheceu, incluindo uma sobrevivente de minas terrestres sem uma perna, uma mãe de quatro filhos surda e uma música cega. Elas posaram vestidas com trajes criados por um designer sediado em Kampala, contra planos de fundo mostrando peças de arte e artesanato feitas por elas. Quando Mbabazi lhes perguntou como queriam ser vistas, elas disseram lhe: como capazes, iguais, inteligentes. Por outras palavras, com a dignidade que é frequentemente negada às ugandesas com necessidades especiais.
Na sua última viagem a Gulu, Mbabazi ofereceu grandes impressões emolduradas dos retratos às suas modelos. Mbabazi espera que as fotografias sejam expostas publicamente, para ajudar a mudar a forma como as mulheres são vistas e tratadas pelos outros.
A National Geographic Society financia o trabalho da fotógrafa Esther Ruth Mbabazi desde 2019.