Com este sistema de codificação inventado na década de 1830, pela primeira vez na história o ser humano conseguiu comunicar através de longas distâncias e à velocidade da luz. O jornalismo, o comércio e até as relações amorosas nunca mais foram os mesmos.
Texto: Sergio Parra
O código Morse é um sistema de codificação com caracteres alfabéticos e numéricos que utiliza sequências de sinais, geralmente sob a forma de impulsos eléctricos, sons ou luzes, para transmitir mensagens através de longas distâncias. Foi desenvolvido por Samuel Morse e Alfred Vail na década de 1830 e desempenhou um papel essencial nas comunicações durante mais de um século.
O código Morse atribui a cada letra e número uma sequência única de pontos (curtos) e traços (largos). Por exemplo, a letra A é representada como “.-“ (ponto-traço) e a letra B como “-...” (traço-ponto-ponto-ponto). Os sinais podem ser impulsos eléctricos transmitidos por cabos, sons audíveis ou luzes visíveis.
A duração do ponto é o mais curta possível. O traço tem uma duração cerca de três vezes superior ao do ponto. Entre dois símbolos da mesma letra, há uma pausa com uma duração semelhante à de um ponto. Entre as letras de uma palavra, a pausa é aproximadamente o tempo de três pontos. Para separar palavras numa transmissão, o intervalo é cerca de três vezes superior à duração de um traço.
Como funciona o código Morse
O código Morse foi desenvolvido para o telégrafo, um dispositivo igualmente idealizado por Samuel Morse em 1832. Este sistema de comunicação permite a transmissão de mensagens a longa distância através da codificação e do envio de sinais, geralmente impulsos eléctricos transmitidos por cabos. Possui um dispositivo chamado “transmissor”, que converte as mensagens em sinais eléctricos, e um “receptor”, que capta os sinais e os transforma em mensagens legíveis.
A primeira mensagem foi enviada a 24 de Maio de 1844, pelo próprio Morse, que escreveu “o que Deus criou” (“What hath God wrought”, uma passagem bíblica, Números 23:23) a partir do Supremo Tribunal dos EUA, em Washington, D.C., para o seu assistente, Alfred Vail, em Baltimore, no estado de Maryland.
Foi a primeira vez na história que se conseguiu enviar uma mensagem a longa distância à velocidade da luz, ou seja, de forma quase instantânea. À medida que o uso do telégrafo começou a popularizar-se, as alterações sociais que o acompanharam foram tão disruptivas como as mais tarde originadas pela Internet, como documentou Tom Standage no seu livro “The Victorian Internet”.
Esta tecnologia começou rapidamente a ser utilizada em negócios, pois facilitava as transacções comerciais e financeiras a nível mundial, permitindo aos comerciantes e empresários obter informações sobre preços e condições do mercado em tempo real, impulsionando o comércio internacional e a economia em geral.
Também revolucionou o jornalismo ao facilitar a difusão rápida de notícias e acontecimentos a nível local, nacional e internacional, resultando no aparecimento de agências noticiosas e no aumento da procura de jornais e boletins informativos.
Teve ainda um impacto considerável nas relações amorosas, dando origem a novas formas de interacção em diversos campos, desde o jornalismo à guerra. Além disso, impulsionou o aparecimento de novos termos e costumes.
Aumentando a velocidade da fala
Apercebendo-se de que o código Morse era mais lento do que falar e querendo aumentar a velocidade de transmissão, Morse e Vail viram que poderiam poupar pulsações de telégrafo atribuindo sequências de pontos e traços mais curtas às letras mais comuns. O conhecimento sobre as estatísticas do alfabeto era limitado na altura, mas Vail teve uma ideia.
Visitou as instalações do jornal local de Morristown, em Nova Jérsia, e examinou as caixas tipográficas, descobrindo que havido um sortido de 12.000 “E”, 9.000 “T” e apenas 200 “Z”, como James Gleick explica no seu livro “La información”:
“Vail e Morse reorganizaram o alfabeto segundo estes dados. Originalmente, tinham utilizado traço-traço-ponto para representar a letra “T”, a segunda mais usada; atribuíram-lhe então um único traço, poupando aos operadores de telégrafo do futuro milhões e milhões de pulsações de teclado. Muito mais tarde, os teóricos da informação calcularam que essa alteração representara uma poupança de tempo de transmissão em quase 15 por cento num texto telegráfico escrito em inglês.
O código morse e o Titanic
O código Morse foi amplamente utilizado pela telegrafia, um meio de comunicação que transmite as mensagens através de cabos eléctricos utilizando impulsos de corrente. A versão internacional do código Morse, conhecida como Código Morse Internacional, foi adoptada nas comunicações marítimas e aéreas.
Como tal, o código Morse desempenhou um papel essencial no acidente do Titanic, em 1912. O Titanic estava equipado com um sistema de telegrafia Marconi, que utilizava código Morse para enviar e receber mensagens através de ondas de rádio. Quando o Titanic embateu num iceberg e começou a afundar-se, os operadores de rádio de bordo, Jack Phillips e Harold Bride, enviaram sinais de socorro em código Morse para barcos próximos, pedindo-lhes ajuda.
A mensagem de socorro enviada foi “CQD” (que significa “chamada geral, perigo”) e “SOS” (que se transformou no sinal internacional de socorro mais conhecido). Embora vários barcos tenham respondido aos pedidos de socorro, foi o Carpathia que resgatou os sobreviventes do Titanic. A utilização do código Morse neste acontecimento histórico demonstra a sua importância na comunicação e na coordenação de esforços de resgate em emergências.
Artigo publicado originalmente em castelhano em nationalgeographic.com.es