“As estátuas andavam”, dizem os habitantes da ilha da Páscoa. Os arqueólogos tentam descobrir como o faziam e se a sua história é um relato preventivo sobre catástrofes ambientais ou uma exaltação do engenho humano.
Texto Hannah Bloch Fotografias Randy Olson
Turistas mergulham nos recifes da ilha da Páscoa junto de um moai falso, construído em 1994 para um filme de Hollywood e, de seguida, afundado ao largo. O recife apresenta-se saudável, embora sujeito a sobrepesca. O atum e o salmão são importados, principalmente para turistas.
Em Junho de 2012, durante uma noite de Inverno, o artista José Antonio Tuki, de 30 anos e morador na ilha da Páscoa, partiu da sua casa de uma só assoalhada, na costa sudoeste, e atravessou a ilha a pé até à praia de Anakena. Segundo reza a lenda, os primitivos colonos polinésios puxaram as suas canoas até à praia de Anakena, há cerca de mil anos, depois de navegarem mais de dois mil quilómetros através do oceano Pacífico, em mar aberto. José Antonio sentou-se na areia e fixou o olhar directamente nas colossais estátuas humanas que avistava à sua frente: os moai. Esculpidas há muitos séculos em tufo vulcânico, incorporavam, segundo a crença local, os espíritos deificados dos antepassados.
Em Anakena, sete moai de ventre protuberante erguem-se, vigilantes, sobre uma plataforma rochosa.
José Antonio é um rapanui, ou seja, um polinésio indígena morador em Rapa Nui, o nome dado pelos habitantes locais à ilha da Páscoa. Os seus antepassados ajudaram provavelmente a esculpir algumas das centenas de estátuas que cravejam colinas verdejantes e costas denteadas da ilha. Em Anakena, sete moai de ventre protuberante erguem-se, vigilantes, sobre uma plataforma rochosa com 16 metros de comprimento, de costas voltadas ao Pacífico, braços ao longo do corpo e cabeças cobertas com altos pukao de escória avermelhada, outra rocha vulcânica. Quando José Antonio os fita no rosto, sente uma ligação. “É algo estranho”, diz. “É gerado pela minha cultura. É rapanui.” Abana a cabeça. “Como fizeram eles isto?”
O Almirante holandês, Jacob Roggeveen, foi o primeiro europeu a visitar a ilha da Páscoa em 1722 e ao chegar encontrou vestígios de uma estranha sociedade. Desde então muito se escreveu sobre a misteriosa cultura que foi capaz de construir, mover e montar os famosos moai.
A ilha da Páscoa tem apenas 164 quilómetros quadrados. Localiza-se 3.500 quilómetros a oeste da América do Sul e dois mil quilómetros a leste da ilha Pitcairn, a sua vizinha habitada mais próxima. Depois de ser colonizada, manteve-se isolada durante muitos séculos. Toda a energia e recursos afectos aos moai (com 1 a 10 metros de altura e chegando a pesar mais de 80 toneladas) vieram da própria ilha. E contudo, quando os exploradores holandeses ali chegaram, no domingo de Páscoa de 1722, encontraram uma cultura do Paleolítico. Os moai foram esculpidos com ferramentas líticas, na sua maioria numa única pedreira, e foram depois transportados, sem apoio de animais ou de rodas, para cima de plataformas maciças de pedra, ou ahu, por vezes situadas a 18 quilómetros de distância. Como fizeram eles isto? A pergunta tem intrigado hordas de visitantes nos últimos 50 anos.
Três vulcões, hoje adormecidos, formaram a ilha há meio milhão de anos. Nela, existem três lagos de cratera, mas a água doce escasseia. Origem do combustível consumido na ilha e da maior parte dos alimentos, o Chile, fica a 3.500 quilómetros.
Ultimamente, porém, os moai têm sido arrastados para uma discussão mais ampla, na qual se digladiam duas visões distintas do passado da ilha da Páscoa. A primeira, eloquentemente exposta por Jared Diamond, vencedor do Prémio Pulitzer, apresenta a ilha como parábola de aviso: o caso mais extremo de uma sociedade que se destruiu a si mesma, arruinando o seu ambiente. Conseguirá o planeta como um todo evitar sorte idêntica? – interroga-se Jared. Na perspectiva oposta, os antigos rapanui são símbolos supremos de resistência e engenho humanos.
Em Hanga Roa, a única cidade, pululam agora cafés com Internet, bares e discotecas.
Quando os colonos polinésios chegaram a Rapa Nui, andavam há muitas semanas a navegar em canoas abertas. Actualmente, 12 voos semanais aterram aqui provenientes do Chile, do Peru e de Taiti e, em 2011, esses aviões transportaram 50 mil turistas, dez vezes mais do que a população da ilha. Em Hanga Roa, a única cidade, pululam agora cafés com Internet, bares e discotecas, enquanto os veículos motorizados entopem as ruas nas noites de sábado. Turistas ricos gastam 700 euros por noite nos hotéis mais requintados da ilha. “A ilha já não é uma ilha”, diz Kara Pate, uma escultora rapanui casada com um alemão que conheceu aqui há 23 anos.
As antigas estátuas vigiam a ilha da Páscoa e inspiram bailarinos nativos com pinturas corporais. Cerca de dois mil rapanui vivem na ilha, que pertence ao Chile. Em 1877, eram apenas 111, depois de os traficantes de escravos e as doenças dizimarem a população.
O Chile anexou a ilha da Páscoa em 1888, mas até 1953 uma empresa escocesa geriu a ilha como um gigantesco rancho de criação de ovelhas, que deambulavam pela ilha em liberdade enquanto os rapanui viviam encurralados em Hanga Roa. Em 1964, estes revoltaram-se, conquistando mais tarde a cidadania chilena e o direito a eleger o presidente da câmara.
Embora muitos rapanui se tenham casado com continentais, alguns preocupam-se com o desvanecimento da sua cultura.
Os habitantes da ilha da Páscoa dependem do Chile, de onde lhes chegam os combustíveis e carregamentos diários de alimentos. Exprimem-se em espanhol e vão para o continente completar os seus estudos universitários. Entretanto, os migrantes chilenos, atraídos em parte pela isenção de impostos concedida à ilha, aceitam de boa vontade empregos rejeitados pelos rapanui. Embora muitos rapanui se tenham casado com continentais, alguns preocupam-se com o desvanecimento da sua cultura. A população ronda actualmente os cinco mil habitantes, quase o dobro de há 20 anos, mas menos de metade são rapanui.
Quase todos os postos de trabalho na ilha dependem do turismo. “Sem ele, todos morreriam de fome”, diz Mahina Lucero Teao, directora do gabinete de turismo. A presidente da câmara, Luz Zasso Paoa, completa: “O nosso património é a base da economia.” Ou seja, os moai.
Recém-casados chilenos, pintados e emplumados, celebram a boda ao estilo rapanui. Em 2011, cerca de dois terços dos turistas que visitaram a ilha provinham do Chile.
O etnógrafo e aventureiro norueguês Thor Heyerdahl pensava que as estátuas tinham sido construídas por povos anteriores aos incas, oriundos do Peru. O escritor suíço Erich von Däniken tinha a certeza de que os moai tinham sido construídos por extraterrestres encalhados na Terra. Apoiada em provas linguísticas, arqueo- lógicas e genéticas, a ciência demonstra que os construtores dos moai eram polinésios, mas continua por explicar de que maneira deslocavam as suas criações.
Na tradição dos rapanui, os moai eram animados pela mana, uma força espiritual transmitida por antepassados poderosos.
Os investigadores tendem a partir do princípio de que os antepassados arrastaram as estátuas de algum modo. “Os peritos podem dizer o que quiserem”, zomba Suri Tuki, de 25 anos, meio-irmão de José Antonio Tuki. “Mas nós conhecemos a verdade. As estátuas caminhavam.” Na tradição dos rapanui, os moai eram animados pela mana, uma força espiritual transmitida por antepassados poderosos.
Não existem relatos de construção de quaisquer moai após a chegada dos europeus. Nessa época, já só havia na ilha da Páscoa um punhado de árvores enfezadas. No entanto, durante as décadas de 1970 e 1980, o biogeógrafo neozelandês John Flenley descobriu um elemento importante: pólen preservado em sedimentos de lagos. Percebeu então que a ilha fora outrora coberta por florestas luxuriantes, incluindo milhões de palmeiras gigantes, durante milhares de anos. Só depois de os polinésios chegarem, por volta de 800 d.C., essas florestas cederam o seu lugar a savanas.
O mapa mostra a intervenção humana ancestral na ilha da Páscoa e a intensidade de exploração da rocha para a criação dos moai. As estradas actuais, marcadas a cinzento, complementam as rotas antigas que permitiam o acesso às pedreiras.
Jared Diamond apoiou-se firmemente no trabalho de John Flenley para sustentar a sua afirmação, produzida no influente livro “Collapse”, de 2005, segundo a qual os antigos habitantes da ilha da Páscoa cometeram um ecocídio involuntário. Instalaram-se numa ilha extremamente frágil, seca, fresca e distante, o que significava fracamente fertilizada por poeiras ou cinzas vulcânicas sopradas pelo vento. Quando os ilhéus abateram as florestas para obter madeira e para cultivar a terra, as florestas não voltaram a crescer. Quando os ilhéus deixaram de ser capazes de construir canoas para pescar no mar, comeram as aves. A erosão do solo diminuiu as colheitas. Os rapanui mergulharam na guerra civil e no canibalismo. O colapso da sua civilização isolada é “o exemplo mais flagrante de uma sociedade que se autodestruiu explorando os seus próprios recursos em excesso”, escreveu Jared.
Quando a madeira desapareceu e a guerra civil estalou, os ilhéus começaram a derrubar os moai.
Os moai, no seu entender, aceleraram a autodestruição. O autor interpreta-os como demonstrações de poder de chefes rivais. Competiam entre si construindo estátuas cada vez maiores. Jared crê que eles pousavam os moai sobre placas de madeira arrastadas sobre caminhos de troncos, uma técnica ensaiada com sucesso pela arqueóloga Jo Anne Van Tilburg, directora do Projecto das Estátuas da Ilha da Páscoa. Esse método, porém, exigia muita madeira e muita gente. Para alimentar as pessoas, era preciso abrir cada vez mais terras ao cultivo. Quando a madeira desapareceu e a guerra civil estalou, os ilhéus começaram a derrubar os moai. No século XIX, não restava nenhum de pé. A paisagem da ilha da Páscoa adquiriu uma aura de tragédia que, aos olhos de muitos, ainda perdura.
No entanto, basta reordenar e reinterpretar os fragmentos factuais dispersos para se obter uma visão mais optimista do passado de Rapa Nui, proposta pelos arqueólogos norte-americanos Terry Hunt e Carl Lipo que estudaram a ilha na última década. Os dois autores propõem que a ilha foi habitada por pacíficos e engenhosos construtores de moai, guardiões cuidadosos da terra. Terry e Carl concordam que a ilha perdeu as suas florestas luxuriantes e que isso foi uma “catástrofe ecológica”, mas os ilhéus não podem ser responsabilizados por isso. E os moai também não.
De costas voltadas para o Pacífico, 15 moai restaurados vigiam Ahu Tongariki, a maior plataforma cerimonial da ilha. Artesãos rapanui esculpiram os moai há muitos séculos, a partir de rocha vulcânica disponível numa pedreira a um quiló-metro de distância. No século XIX, todos os moai da ilha tinham sido derrubados, não se sabendo quem os derrubou. Em 1960, estes moai foram empurrados para o interior da ilha por um tsunami que fracturou alguns deles, como o que se vê na imagem.
A polémica nova versão, com base na sua investigação e de outros autores, começa pela sua própria escavação na praia de Anakena. A campanha convenceu-os de que os polinésios não chegaram antes de 1200 d.C., cerca de quatro séculos depois da cronologia normalmente aceite, o que lhes teria dado apenas cinco séculos para desnudar a paisagem. O abate de árvores e as queimadas não teriam sido suficientes, crêem. Seja como for, estava presente também outro arboricida. Quando os arqueólogos escavam nozes da extinta palmeira da ilha da Páscoa, essas nozes aparecem frequentemente marcadas por minúsculos sulcos, abertos pelos dentes afiados dos ratos-do-pacífico.
Como é evidente, os colonos são responsáveis por terem trazido consigo os ratos, e os investigadores suspeitam que o fizeram intencionalmente, pois também trouxeram galinhas.
Estes ratos chegaram à ilha nas mesmas canoas dos colonos. A abundância de ossos encontra-
da na escavação realizada em Anakena indica que os ilhéus se alimentavam deles, mas, salvo esta excepção, os roedores não conheciam mais nenhum predador. No espaço de poucos anos, segundo cálculos feitos de Terry e Carl, tornaram-se donos da ilha. Banqueteando-se com nozes de palmeira, poderiam ter impedido que as árvores de crescimento lento se reproduzissem, condenando assim à extinção a floresta de Rapa Nui. Ninguém duvida de que os ratos-do-pacífico também devorariam os ovos das aves.
Como é evidente, os colonos são responsáveis por terem trazido consigo os ratos: Terry e Carl suspeitam que o fizeram intencionalmente, pois também trouxeram galinhas. No entanto, à semelhança do que sucede com as espécies invasoras na actualidade, os ratos-do-pacífico causaram mais estragos ao ecossistema do que os seres humanos que os transportaram. Os arqueólogos não encontram quaisquer provas de a civilização rapanui ter entrado em colapso quando a floresta de palmeiras desapareceu: baseados no seu levantamento arqueológico da ilha, defendem que a população cresceu rapidamente após a colonização, até rondar os três mil habitantes, para depois se manter mais ou menos estável até à chegada dos europeus.
A casa de assoalhada única construída na ilha da Páscoa por José Antonio Tuki, para si e para a sua namorada belga, Joyce Verbaenen, possui electricidade mas não tem canalização interna. O oceano fica a poucos passos de distância.
Os campos abertos tinham mais valor para os rapanui do que as florestas de palmeiras. Mas eram solos inférteis fustigados pelo vento, irrigados por chuvas irregulares. A ilha da Páscoa era um lugar difícil para sobreviver, exigindo esforços heróicos. A cultivar os campos, tal como a deslocar os moai, os ilhéus transportavam quantidades monumentais de rocha, mas para dentro dos seus campos, não para fora. Construíram milhares de corta-ventos circulares de pedra e praticavam a horticultura no seu interior. Cobriam campos inteiros com uma camada de rocha vulcânica fragmentada para manter o solo húmido e adubavam-no com nutrientes que os vulcões tinham espalhado. Em resumo, os rapanui pré-históricos teriam sido pioneiros da agricultura sustentável. “Em vez de um caso de fracasso abjecto, Rapa Nui é uma improvável história de sucesso”, escreveram recentemente Terry e Carl.
Os moai ajudavam a manter a paz, lembrando o poder dos seus construtores e restringindo o crescimento demográfico.
Terry e Lipo Carl não confiam nos relatos de história oral sobre conflitos violentos entre os rapanui: nas lâminas afiadas de obsidiana que outros arqueólogos olham como armas, eles vêem utensílios agrícolas. Os moai ajudavam a manter a paz, afirmam, não só lembrando o poder dos seus construtores mas também restringindo o crescimento demográfico. E mais: deslocar os moai exigia pouca gente e nenhuma madeira, porque elas caminhavam na posição erecta. Nesta questão, segundo Terry e Carl, as provas apoiam a tradição oral.
Como se
deslocavam os moai?
Como se transportaram centenas de estátuas gigantescas através da ilha, ao longo de distâncias por vezes tão extensas como 18 quilómetros, por indivíduos que não dispunham de animais nem rodas? A cena aqui imaginada, com um moai de 6,5 metros de altura, exemplifica uma nova teoria inspirada pela tradição oral dos rapanui, segundo a qual os moai “caminhavam”.
A- Rano Raraku, a pedreira principal da ilha; B- Estradas de terra batida irradiando a partir da pedreira foram construídas com um desnível suave para permitir que os moai chegassem inteiros às suas plataformas.
O arqueólogo rapanui Sergio Rapu, de 63 anos, antigo governador da ilha da Páscoa e aluno de Terry Hunt na licenciatura, levou os seus colegas norte-americanos à antiga pedreira de Rano Raraku, o vulcão do Sudeste da ilha. Olhando para os muitos moai ali abandonados, em fases diferentes de acabamento, Sergio explicou a maneira como eram desenhados para caminhar: os ventres protuberantes inclinavam-nos para diante e a base em forma de D permitia aos condutores que os manuseavam balouçá-los de um lado para o outro. No ano passado, em experiências financiadas pelo Conselho de Expedições da National Geographic, Terry e Carl demonstraram como 18 pessoas, com três cordas fortes, eram capazes de manobrar um moai com três metros de altura e cinco toneladas, deslocando-o algumas centenas de metros. O transporte de moai muito maiores durante vários quilómetros teria sido mais duro. Dezenas de estátuas tombadas juncam as estradas que partem da pedreira. Mas muitas mais alcançaram as suas plataformas intactas.
Em Rano Raraku, a pedreira principal, cada moai foi entalhado no leito rochoso inclinado até que apenas uma estreita “quilha” o segurasse de pé. A última etapa consistia em cortar a “quilha” e descer o moai colina abaixo, com cordas, até uma trincheira, onde aguardaria transporte.
Ninguém sabe ao certo quando foi entalhada a última estátua. Não é possível datar directamente os moai. Muitos ainda permaneciam de pé quando os holandeses chegaram à ilha, em 1722, e a civilização rapanui era então pacífica e próspera, na opinião de Terry e Carl. Mas os exploradores introduziram doenças para as quais os ilhéus não possuíam imunidade, juntamente com artefactos que substituíram os moai como símbolos de estatuto. No século XIX, os traficantes de escravos dizimaram a população que, em 1877, se reduzira a 111 habitantes.
AS ESTÁTUAS QUE BALOUÇAM
Teoria mais recente, 2011 -Terry Hunt, Carl Lipo.
Segundo os arqueólogos Terry Hunt e Carl Lipo, três pequenos grupos seriam capazes de deslocar um moai: dois grupos faziam-no avançar, balouçando-o lateralmente, enquanto um terceiro grupo o estabilizava por trás. Uma base pesada, em forma de D, permitia balouçar um moai. Numa experiência em 2011, 18 pessoas deslocaram uma réplica com três metros de altura e cinco toneladas.
Thor Heyerdahl, 1955
O norueguês e uma equipa
de 180 pessoas amarraram um moai autêntico, com quatro metros de altura e dez toneladas, deitaram-no sobre um tronco de árvore e, de seguida, arrastaram-no.
William Mulloy, 1970
Este arqueólogo conjecturou que um moai poderia ser empurrado, balouçando, passo a passo, enquan
to o mantinham pendurado pelo pescoço numa estrutura de madeira em forma de V invertido.
Pavel Pavel, 1986
O engenheiro checo, Thor Heyerdahl e 17 ajudantes fizeram caminhar um moai com quatro metros de altura e nove toneladas de peso com um movimento giratório e não de balouço. Danificaram-lhe a base.
Charles Love, 1987
O arqueólogo e a sua equipa de 25 pessoas ergueram uma réplica com quatro metros de altura e nove tonela-
das sobre um trenó de madeira, içando-o sobre rolos. Em dois minutos, deslocaram-no 45 metros.
Jo Anne Van Tilburg, 1998
Deitando uma réplica de quatro metros e dez toneladas, 40 voluntários puxaram-no ao longo de 70 metros em cima de um “escadote” de madeira, método polinésio para transportar canoas gigantes.
A história da ilha da Páscoa parece ser uma parábola de genocídio e de culturicídio, não de ecocídio. Sergio Rapu acredita em parte desta narrativa, mas não em tudo. “Não me digam que aquelas ferramentas de obsidiana só serviam para a agricultura”, diz. “Adoraria que me dissessem que o meu povo nunca se canibalizou. Mas temo que o tivessem feito.”
Na actualidade, os ilhéus defrontam um novo desafio. A população crescente de milhares de turistas exerce pressão sobre recursos hídricos limitados. A ilha carece de um sistema de esgotos e de um lugar para depositar um volume crescente de lixo: entre 2009 e meados de 2011, foram despachadas 230 toneladas para o continente. “O que havemos de fazer?”, interroga-se Zasso Paoa, a presidente da câmara. “Restringir a migração? Restringir o turismo? É nesse ponto que nos encontramos agora.” Recentemente, a ilha começou a pedir aos turistas para levarem consigo o seu lixo nas malas.
O desejo dos ilhéus de desenvolver as terras dos seus antepassados talvez seja uma ameaça maior ao seu densamente amontoado património. Mais de 40% da ilha está protegida como parque nacional. “É preciso aprender que a arqueologia não é inimiga”, sugere Sergio Rapu.
Sedutora mas nada fácil, Rapa Nui retém as suas gentes. José Antonio Tuki (à esquerda, com a namorada, Joyce) mudou-se para o Chile, mas só durante quatro anos. “Se partirmos, a ilha chama-nos de volta”, diz.
Ele próprio contribuiu no passado para devolver os moai de Anakena à sua posição erecta. Durante esse processo, ele e os colegas descobriram como os construtores dos moai tinham colocado olhos de coral branco e pupilas de obsidiana ou escória vermelha nas órbitas vazias.
Um renque de coqueiros importados inclina-se hoje sobre a praia de Anakena, assegurando aos banhistas e aos recém-casados chilenos que estão mesmo na Polinésia, embora o vento uive e as colinas ondulantes que avistam se assemelhem às Terras Altas da Escócia. Agora os moai já não têm olhos nem revelam a maneira como aqui chegaram, mas José Antonio Tuki aguenta a ambiguidade. “Quero saber a verdade”, diz. “Mas a ilha talvez não revele todas as respostas. E saber tudo talvez lhe retirasse o seu poder.”