Que forças podem santificar um objecto, conferindo-lhe significado superior? ABNEGAÇÃO. CORAGEM. RESISTÊNCIA perante o indescritível. As forças que Joe Hunter e centenas de outras pessoas mobilizaram no dia 11 DE SETEMBRO DE 2001.

Texto: Patricia Edmonds
Fotografias: Henry Leutwyler
Artefactos: Museu e Memorial 9/11

Os sonhos de Joe Hunter incluíram sempre carros de bombeiros. Aos 4 anos, já pedalava no seu Big Wheel até à esquina para ver passar os carros vermelhos. Aos 11, fazia exercícios de combate a incêndios com uma escada e uma mangueira de jardim.

Começou o seu percurso como bombeiro voluntário, fez o curso na Academia de Bombeiros da Cidade de Nova Iorque, frequentou acções de formação de salvamento em situações de ataque terrorista e desabamento de edifícios. Quando a mãe, Bridget, se preocupava, ele dizia-lhe: “Se algo acontecer, lembra-te que eu adorava o meu trabalho!”

O bombeiro Joseph Gerard Hunter, do Quartel 288 do FDNY, morreu quando participava na evacuação da Torre Sul do World Trade Center. Foi uma de 2.977 pessoas mortas no dia 11 de Setembro, quando sequestradores da al-Qaeda usaram aviões de passageiros como armas no mais mortífero ataque terrorista perpetrado em solo norte-americano.

Em Fevereiro de 2002, equipas de busca no Ground Zero recuperaram um capacete do Quartel 288 com o número do distintivo de Hunter. A família sente-se grata por ter sido encontrado. “É a única coisa que temos dele e que estava com ele”, conta Teresa Hunter Labo, irmã de Hunter.

Nas duas décadas decorridas desde o ataque de 11 de Setembro, foram erguidos memoriais nos locais dos ataques na cidade de Nova Iorque, no Pentágono e na zona rural da Pensilvânia. Artefactos de cada local reflectem os pormenores de cada tragédia: quando a tripulação e os passageiros do United Flight 93 tentaram recuperar o controlo do avião, os sequestradores lançaram-no contra o solo. Além de uma secção de fuselagem e de duas peças do motor, a maior parte dos restos ficou fragmentada em pedacinhos.

No Memorial e Museu 9/11 de Nova Iorque, mais de setenta mil objectos ajudam a contar as histórias das vítimas, dos socorristas e dos sobreviventes. Os artefactos são tão pequenos como um anel de safiras e diamantes e tão grandes como um carro de bombeiros semiesmagado. Muitos são banais: a tampa de um recipiente de comida, talvez de um almoço embalado naquela que começou por ser uma terça-feira igual às outras. No entanto, a intensidade dos objectos comuns reside nos pormenores: uma peça de malha por terminar, ainda nas agulhas de tricô, era o passatempo da executiva de uma empresa que perdeu 658 funcionários na Torre Norte.

A família de Joe Hunter doou o seu capacete ao museu em sua memória: “É ali que pertence”, diz a sua irmã. Está preservado com os outros artefactos, banais, mas invulgares, num testemunho silencioso da história.

POEIRA SAGRADA

Ao tomar conhecimento dos ataques terroristas no World Trade Center, o TEPH voluntário Greg Gully pegou em algumas provisões e pôs-se a caminho das TORRES GÉMEAS. Entregou máscaras para a poeira aos sobreviventes resgatados, prestou assistência médica e, nos quatro dias seguintes, ajudou a revistar os destroços. Quando finalmente regressou a casa, pendurou as calças num cabide, ainda cobertas de poeira, e afixou-lhes um bilhete escrito à mão: “Calças usadas a 9-11-01 no WTC. Por favor, NÃO LAVAR. As cinzas são os RESTOS DAQUELES QUE MORRERAM. Deus os Abençoe!”


ENTERRADOS VIVOS

O sargento de polícia John McLoughlin e quatro outros agentes transportavam equipamento de resgate quando a Torre Sul desabou. Meia hora mais tarde, a Torre Norte caiu. Sob nove metros de detritos, DOIS DELES SOBREVIVERAM: o veterano McLoughlin, com 21 anos de carreira, e o novato William Jimeno. Antes disso, nenhum sabia o nome do outro. Separados por 4,5 metros de distância, partilharam histórias de família e encorajaram-se a resistir. Quando a noite caiu, ouviram vozes e gritaram até os encontrarem. William ficou preso durante 13 horas. John, enterrado mais abaixo, durante 22 horas. Apenas outra pessoa foi encontrada viva NOS DESTROÇOS depois deles. John McLoughlin emergiu desta provação ainda com o emblema de sargento e as botas calçadas. 

DEVOÇÃO AO SERVIÇO

Rosemary Smith desceu a pé 57 pisos numa escada escura e cheia de fumo para sair da Torre Norte… em 1993, depois de outros terroristas terem feito explodir uma bomba no World Trade Center. Embora RECEASSE trabalhar no edifício depois desse ataque, Rosemary adorava ser operadora telefónica no seu escritório de advogados. Por isso, regressou ao trabalho. No dia 11 de Setembro, quando os colegas começaram a evacuar, ROSEMARY FICOU para reencaminhar telefonemas para o atendedor automático e não conseguiu escapar a tempo. Foi a única funcionária do escritório morta nos ataques. O seu relógio foi encontrado junto dos seus restos mortais na véspera de Natal de 2001.


PROMETO VIVER

Joanne Capestro não consegue esquecer O QUE VIU depois de o avião atingir a Torre Norte, acima do seu escritório, no 87.º piso: pessoas sem rota de fuga, saltando para a morte. O seu amigo, Harry Ramos, atrasou a sua fuga para ajudar um homem doente. NÃO ESCAPOU. Joanne conseguiu fugir momentos antes de a Torre Sul desabar. Quando a poeira assentou, o fotógrafo Phil Penman captou aquela que viria a tornar-se uma fotografia icónica do 11 de Setembro: Joanne e um colega aninhados juntos, cobertos de poeira e atordoados. Durante meses, ela esteve paralisada por stress pós-traumático. Aos poucos, começou a RECUPERAR A SUA VIDA. Quando um saco do seu escritório foi recuperado no Ground Zero, os objectos que lhe foram devolvidos incluíam uma fotografia danificada dos seus sobrinhos.

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