titanic

A cerca de 3,8 quilómetros de profundidade, a proa fantasmagórica do Titanic emerge da escuridão, envolta em “pingentes de ferrugem” – estalactites cor de laranja criadas por bactérias devoradoras de ferro.

Em 1912, o maior e mais luxuoso navio da sua época afundou-se. A sua descoberta, após décadas de buscas, revelou espantosos pormenores da tragédia.

Às 2h20 do dia 15 de abril de 1912, o “inafundável” RMS Titanic desapareceu sob as ondas, arrastando cerca de 1.500 almas. Por que motivo esta tragédia exerce uma atracção tão magnética sobre a nossa imaginação mais de um século depois? A pura extravagância do desaparecimento do Titanic encontra-se no cerne da sua atracção. Sempre foi uma história de superlativos: um navio tão grande e forte, submerso em águas tão frias e profundas. O destino do navio ficou selado na viagem inaugural, entre Southampton e Nova Iorque. Às 23h40, no Atlântico Norte, o navio embateu de lado num icebergue, que deformou partes do casco de estibordo, ao longo de 90 metros, e expôs os seis compartimentos dianteiros às águas do oceano. A partir desse momento, o naufrágio era garantido.

Ao longo de décadas, várias expedições tentaram, sem sucesso, descobrir o Titanic, uma dificuldade agravada pelo clima imprevisível do Atlântico Norte, pela gigantesca profundidade (3.800 metros) à qual o navio se encontra afundado e pelos relatos contraditórios sobre os momentos finais. Por fim, 73 anos depois do naufrágio, o local de descanso final do Titanic foi localizado pelo explorador da National Geographic Robert Ballard e pelo cientista francês Jean-Louis Michel no dia 1 de Setembro de 1985. O Titanic encontrava-se em águas internacionais, cerca de 610 quilómetros a sudoeste da Terra Nova.

Segundo informação recentemente tornada pública, a descoberta resultou de uma investigação secreta da Marinha dos EUA, que procurava dois submarinos nucleares naufragados, o USS Thresher e o USS Scorpion. As forças armadas queriam conhecer o destino dos reactores nucleares que alimentavam os submarinos e ver se haveria provas que apoiassem a teoria de que o Scorpion fora afundado pelos soviéticos. Não existiam.

Ballard reunira-se com a Marinha de Guerra dos EUA em 1982 para pedir fundos para desenvolver a tecnologia robótica submersível de que precisava para encontrar o Titanic. Os militares mostraram-se interessados, mas com a sua própria agenda. Quando Ballard acabasse de inspeccionar os submarinos, se houvesse tempo, poderia fazer o que quisesse. Conseguiu, finalmente, começar a procurar o Titanic com menos de duas semanas para gastar. Subitamente, à 1h05 da madrugada, câmaras de vídeo captaram uma das caldeiras do navio. “Não conseguia acreditar nos meus olhos”, escreveu Ballard sobre o momento da descoberta.

Nos anos decorridos desde a expedição, os processos orgânicos têm decomposto o Titanic: os moluscos devoraram grande parte da madeira do navio, enquanto os micróbios comem o metal exposto, formando “pingentes de ferrugem”. O casco começou a colapsar, arrastando os camarotes. “A zona de deterioração mais chocante é o lado estibordo dos alojamentos dos oficiais, onde ficava o camarote do comandante”, disse Parks Stephenson, historiador do Titanic, depois de um mergulho de submersível tripulado em 2019. A equipa captou então imagens do destroço que podem ser usadas para criar modelos 3D, ajudando a estudar melhor o passado e o futuro do navio.

Durante quanto tempo irá o Titanic permanecer intacto?

“Há opiniões para todos os gostos”, diz Bill Lange, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole. “Alguns acham que a proa vai desmoronar-se daqui a um ou dois anos. Outros dizem que vai lá ficar centenas de anos.” Independentemente do tempo, a história irá, certamente, perdurar – a história de um navio orgulhoso, acelerando em direcção a um novo mundo, apenas para ser mortalmente cortado por algo tão velho e lento como o gelo.

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