são cucufate

São Cucufate resgata a memória de uma villa romana no Alentejo que se pautava por um estilo de vida palaciano.

Texto: Paulo Rolão

Herdeiros naturais das tradições mediterrâneas, os romanos prezavam e valorizavam produtos que entravam nos seus hábitos alimentares. Se a expansão do império os levou para paragens distantes da península Itálica e carenciadas destes bens, terá sido legítimo que tenham usufruído de bom grado das potencialidades de territórios com climas temperados  semelhantes  àquela a que estavam habituados. E que permitissem a produção de vinho e azeite de qualidade.

A Hispânia foi um íman para os sentidos. Não surpreende que tenham sobrevivido villae romanas no Alentejo e no Algarve como testemunhas de um passado faustoso. Obviamente, nem todos os romanos reuniam fortuna que lhes permitisse um modus vivendi grandioso, mas foi o caso da família que se radicou em São Cucufate no século I, seguramente possuidora de vastos recursos.

são cucufate

Reconstituição do edifício principal após quatro décadas de escavações iniciadas em 1979 por Jorge Alarcão, Françoise Mayet e Robert Étienne. 1. Três fases de ocupação. Houve uma primeira construção no século I d.C., mas foi a segunda ocupação que transmitiu monumentalidade ao local, com um majestoso peristilo no século II. Dois séculos mais tarde, ergueu-se a estrutura representada na ilustração, seguindo já o modelo das villae áulicas. Terá resistido até meados do século V. 2. Cenário teatral. O monumento em ruínas era conhecido dos eruditos, mas foi tomado, até 1979, como mosteiro beneditino. Na terceira fase do monumento, o proprietário ter-se-á inspirado num cenário teatral para decorar a fachada ocidental. Ilustração: Anyforms Design

Segundo as investigações arqueológicas, a villa contemplava uma área residencial de dois pisos, termas, jardim com um tanque de água que terá servido de piscina e templo, mais tarde convertido em convento seguindo os ditames da religião cristã. O topónimo São Cucufate evoca o mártir executado na Catalunha no ano 304.

Originalmente, a villa tinha as funções de casa agrícola e a prosperidade que foi adquirindo permitiu embelezamentos nos anos seguintes, até atingir o expoente no século IV como casa palaciana – traça que manteve até hoje.

A área da entrada era constituída por salas abobadadas, pátios interiores e armazéns de vinho e azeite, mas a zona nobre residencial, no andar superior, mostrava-se mais opulenta. Era circundada por um terraço que percorria a fachada exterior, subsistindo vestígios do triclinium, com três leitos em redor da mesa de refeições.

As ruínas das termas, a curta distância da villa, mostram um complexo sistema de condução da água para os balneários. Um pouco mais distante encontravam-se os terrenos de exploração agrícola, juntamente com o que resta das residências de serviços e dos escravos. O edifício continuou a ser habitado até finais do século XVIII, mas foi perdendo a aura gloriosa de outrora e caiu no esquecimento.

são cucufate

Sítio Arqueológico de São Cucufate  

Vila de Frades 

Horário: 10h –13h / 14h - 17h30 (4.ª feira a domingo) 14 – 17h30 (3.ª feira) 

Contacto: Tlf.: +266 769 450

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