São Valentim

Um balão de ar quente em forma de coração voa sobre um terreno coberto de neve. Anualmente a 14 de Fevereiro, as pessoas celebram o amor romântico no Dia dos Namorados. Os historiadores dizem que a verdadeira inspiração para esta comemoração poderá ter sido um festival que celebrava a fertilidade... ou a execução de um mártir. Fotografia de Alexey Sizov / Eyeem/Getty.

Alguns dizem que começou como um festival pagão selvagem. Outros responsabilizam Geoffrey Chaucer, o escritor, filósofo, cortesão e diplomata inglês. Mas quem foi São Valentim e por que o celebramos neste dia?

Texto: Sydney Combs

O Dia dos Namorados é o dia do amor. A 14 de Fevereiro, mais do que em qualquer outro dia do ano, os casais românticos trocam gestos de agradecimento e presentes.

Muitas coisas do Dia dos Namorados são bem conhecidas. Os cartões escritos à mão, corações de chocolate e rosas vermelhas são itens básicos da tradição anual facilmente reconhecíveis em qualquer loja de conveniência.

No entanto, muito acerca do que esteve na origem da celebração deste dia permanece um mistério, pormenores perdidos no tempo e transformados à medida que os românticos vão recontando a história. Existem duas histórias na origem do dia de São Valentim que concorrem entre si e há pelo menos dois santos diferentes que lhe podem ter emprestado o nome. Eis o que realmente sabemos sobre o Dia dos Namorados.

Porque celebramos o dia de São Valentim?

Na origem do Dia dos Namorados está uma festa, uma execução ou um poema? Os historiadores não têm certeza.

A festividade pagã da Lupercalia poderá ser a origem mais antiga do Dia dos Namorados. Realizada durante séculos em meados de Fevereiro, a festa celebrava a fertilidade. Os homens despiam-se e sacrificavam uma cabra e um cão. Depois, os rapazes pegavam em tiras feitas com o couro dos animais sacrificados e usavam-nas para chicotear as mulheres jovens, para promover a fertilidade.

A Lupercalia era uma festividade popular e uma das poucas festas pagãs que ainda se celebravam 150 anos depois de o cristianismo ter sido legalizado no Império Romano.

Quando o papa Gelásio I chegou ao poder, no final do século V, pôs fim à festividade.

Pouco tempo depois, a Igreja Católica declarou o dia 14 de Fevereiro como um dia para celebrar o mártir São Valentim.

São Valentim

Um vendedor caminha por baixo de um arco em forma de coração transportando balões que espera vender no Dia dos Namorados, em Mersin, na Turquia. Embora as origens possam ser obscuras, este dia é agora celebrado em todo o mundo. Fotografia de Serkan Avci/Anadolu Agency/Getty Images.

De acordo com Noel Lenski, historiador da Universidade do Colorado em Boulder, a Lupercalia era “claramente muito popular, mesmo numa altura em que os cristãos tentavam pôr-lhe fim”. Numa entrevista à NPR (Rádio Pública Nacional dos EUA), Lenski avançou a hipótese de o dia de São Valentim ter nascido para substituir a Lupercalia. “Há razões para pensar que os cristãos podem ter dito, muito bem, vamos transformá-la numa festividade cristã”, diz.

Como se tornou um dia romântico?

Além do nome, estas festas têm pouca ou nenhuma semelhança com a nossa ideia moderna e romântica do Dia dos Namorados.

De acordo com algumas versões, a verdadeira origem do Dia dos Namorados ainda demoraria mais mil anos a chegar. Jack B. Oruch, professor da Universidade do Kansas, argumenta que o poeta Geoffrey Chaucer foi o primeiro a ligar o Dia dos Namorados ao amor no seu poema The Parlement of Foules (Parlamento das Aves).

Oruch sugere que Chaucer pode ter feito a ligação do dia Dia dos Namorados ao romance mais ou menos por acaso: o Dia dos Namorados acontece aproximadamente na época em que as aves europeias começam a acasalar. Poetas posteriores, incluindo Shakespeare, seguiram o exemplo de Chaucer e ajudaram a criar as conotações românticas da actualidade.

Quem foi São Valentim?

Algumas estimativas apontam para a existência de mais de 10.800 santos, entre os quais mais de 30 Valentins e até algumas Valentinas. Dois Valentins destacam-se como prováveis candidatos ao santo que deu o nome ao dia dos namorados, mas nenhum deles está ligado a assuntos... do coração.

Ambos partilham muitas semelhanças, levando alguns investigadores a interrogarem-se se não seriam o mesmo homem. Foram ambos mártires, condenados à morte pelo imperador romano Cláudio no século III. Os dois terão também morrido a 14 de Fevereiro, embora com anos de diferença.

Raiou o dia de São Valentim; de pé todos estão. Para ser vossa Valentina, irei pôr-me à janela, então. Hamlet - Acto 4, Cena 5

O primeiro Valentim era um sacerdote preso durante as perseguições dos romanos aos cristãos. Levado ao imperador, Valentim ter-se-á recusado a renunciar à sua fé sendo castigado com prisão domiciliar. O dono da casa onde Valentim estava preso desafiou-o a mostrar o poder de Deus e este para o demonstrar curou uma jovem cega, levando toda a casa a converter-se à fé cristã. Assim que a notícia do milagre, e da conversão, chegou ao imperador, Valentim foi executado.

O segundo sacerdote, o bispo Valentim de Terni, também era um santo milagreiro. Conhecido pela sua capacidade de curar deficiências físicas, um erudito mandou-o chamar para curar o seu único filho, que não conseguia falar ou endireitar o corpo. Depois de uma noite de oração, o bispo curou o menino, e a família, juntamente com estudiosos que estavam de visita, converteram-se ao cristianismo. Pouco depois o bispo foi preso por causa dos seus milagres e, depois de recusar converter-se ao paganismo, foi decapitado.

Como se celebra o dia?

Hoje, no Dia dos Namorados a maior parte dos namorados troca presentes como doces, jóias, flores e cartões.

O primeiro cartão do Dia dos Namorados data de 1415, quando o Duque de Orleães, preso na Torre de Londres, enviou um cartão à mulher. Nos Estados Unidos, os cartões do Dia dos Namorados só ganharam popularidade na Guerra da Independência, quando as pessoas adquiriram o hábito de escrever notas para enviar aos seus amados. Só no início de 1900 se começaram a produzir cartões em massa para comemorar o dia.

Apesar da sua popularidade a nível global, o Dia dos Namorados ainda não é amplamente comemorado em países como a Indonésia, a Arábia Saudita e a Malásia. Na maioria destes países, o feriado contradiz aspectos da sua religião. Noutros países o Dia dos Namorados não é bem aceite por motivos políticos. Na Índia, por exemplo, alguns partidos políticos conservadores opõem-se à comemoração do Dia dos Namorados por acreditarem que este promove os valores ocidentais.

Quer se celebre o Dia dos Namorados ou não (por escolha, destino ou outra razão), a nossa capacidade de amar liga os seres humanos há séculos, dos romanos à actualidade. Claro que hoje já não nos chicoteamos uns aos outros com o couro de animais sacrificados, mas todos gostamos de mimar e ser mimados por aqueles que amamos.

Pesquisar