Os circos são espectáculos que encantam o público. Para mim, porém, a magia acontece nos bastidores.
Texto e fotografia Christian Rodriguez
Ma Hoang An ensaia com a mulher, a contorcionista Nigueyn Thi Thu Hiep, na cidade de Ho Chi Minh. Os dois membros da troupe casaram-se em 2012, depois de estudarem juntos em Hanói. Treinam duas vezes por dia para o seu espectáculo aéreo.
O quotidiano que acompanhei em dois circos vietnamitas – antes, durante e depois das actuações – revelou um fascinante paralelo com as personagens assumidas em palco pelos artistas.
Ao longo de três viagens realizadas entre 2009 e 2012, passei oito meses no Vietname. Quando vi um circo em Hanói, senti-me fascinado pelo seu glamour. À medida que conhecia os artistas pessoalmente, senti a urgência de mostrar outra vertente para documentar a sua dedicação.
Nguyen (ao centro) faz alongamentos antes de uma actuação em Ho Chi Minh. Os artistas circenses do Vietname ganham cerca de 130 euros por mês, mais três por espectáculo. Não é suficiente para subsistir. A maioria complementa o salário actuando em festas privadas ou clubes nocturnos.
Não foi fácil conquistar acesso a um mundo privado. Os artistas preferem que as pessoas se concentrem nas suas proezas. Para ganhar confiança, tive de avançar lentamente. Na minha última viagem, vivi como eles viviam na altura, alojando-me durante quatro meses num teatro abandonado de Hanói, onde os artistas tiveram de construir os seus próprios quartos utilizando madeira e plástico.
No slideshow - Minutos antes de um espectáculo no Parque Lenine, em Hanói, membros da Federação de Circo do Vietname (FCV) apresentam-se: Ngueyn Linh Chi (de vermelho), Luu Van Chuong (de lilás), Khanh Chi (de verde) e Pham Thi Huong e Duong Thi Quyen (de amarelo). Fundada em 1956, a FCV é o circo mais antigo do Vietname. Ao contrário do circo da cidade de Ho Chi Minh, é financiado pelo governo, que também paga o alojamento dos artistas.





A abordagem funcionou. Quando tentei mostrar a situação com a maior honestidade possível, eles partilharam as suas vidas. Aceitaram-me e passei simplesmente a fotografar e conviver com eles no quotidiano.
Em Hanói, a luz e a nuvem de fumo cobrem a tenda da Federação de Circo do Vietname antes de um espectáculo. A maioria dos artistas nasceu em pequenas vilas rurais e começa a treinar de manhã, acumulando várias actuações por dia. Aqui e na cidade de Ho Chi Minh, a vida por detrás dos holofotes é repleta de sacrifícios.