A Florida descobriu aquilo que qualquer pai de um adolescente sabe há anos: as cobras fogem.
Texto Bryan Christy Fotografia Karine Aigner
Blake Russ, do grupo Caçadores de Pitões da Florida, tem as mãos cheias. Russ ganhou 756 euros por ter capturado um dos maiores exemplares do Desafio Pitão: media 3,38 metros.
Durante décadas, vários agentes comerciais do estado da Florida importaram dezenas de milhares de pitões para abastecer as lojas de animais norte-americanas e internacionais. Entre os mais populares, estava o pitão-birmanês, uma espécie relativamente dócil, numerosa e fácil de encontrar em todo o Sul e Sudeste da Ásia, que atinge seis metros de comprimento e pode depositar 100 ovos numa única postura. Com o tempo, milhares, ou mesmo milhões de cobras, integraram-se nos ecossistemas da região, embora não se saiba ao certo a gravidade do problema.
Ver galeria
15Fotos
Durante séculos, o ilhéu de Vila Franca do Campo teve vários donos e usos. Foi explorado para vinhedos, caça de coelhos, pesca e até caça ao cachalote. A reserva aqui criada na década de 1980 protegeu os vestígios daquele que os vulcanólogos designam como o vulcão perfeito de São Miguel.
Apto para todos os níveis de especialização, o canyoning é um desafio aos sentidos e uma forma de superação. As paredes verticais das Flores entraram para a agenda dos praticantes internacionais.
Canyoning na ilha das Flores.
Numa parceria entre o Turismo dos Açores e a Direcção Regional da Cultura, foi produzido um guia do património cultural subaquático.
Estrela do mar Ophidiaster ophidianus numa poça durante a baixa da maré, na praia de areia do Corvo.
Nesta perspectiva obtida ao entardecer no topo da Vila do Corvo, a ilha das Flores figura em pano de fundo, num quadro reconfortante de identidade insular.
Vigia atlântico inconfundível, o Pico domina a paisagem. Do cume, avistam-se as cinco ilhas do grupo central.
A ascensão ao ponto mais alto de Portugal é um objectivo ao alcance de qualquer montanhista.
Paisagem protegida, a Lagoa das Sete Cidades, em São Miguel, é o primeiro local ao qual o viajante se desloca mal aterra na ilha. Na última década, têm sido desenvolvidos esforços consideráveis para regular as actividades não invasivas com outros usos do território. As actividades náuticas não motorizadas como a canoagem são uma das actividades de fruição mais populares nos últimos anos. Ao ritmo das pagaias, o viajante tem tempo para reflectir sobre as velhas lendas que asseguravam que as lagoas não tinham fundo.
Para os primeiros colonos, a zona das Furnas, em São Miguel, deverá ter parecido uma paisagem inóspita e perigosa. As emissões constantes das fumarolas, as fontes de águas termais e a actividade sísmica irregular decerto assustaram os vindouros. Com o tempo, as Furnas embrenharam-se na comunidade local. Ninguém sabe ao certo quando começou a ser canalizada a energia e calor do vulcão para produzir um dos mais típicos elementos da gastronomia açoriana – o cozido. É uma variação do cozido à portuguesa, utilizando naturalmente as carnes e vegetais mais abundantes da ilha. O inhame costuma estar presente, tal como o toucinho fumado. É raro que o cozido das Furnas inclua carne de porco. O sabor, esse, é inconfundível. Aconselha-se marcação prévia da refeição.
Nas Furnas, em São Miguel, esta piscina termal constitui um íman em todas as estações do ano, desde a sua requalificação em 2010.
No extremo ocidental da Terceira, a serra compreende um enorme vulcão. À superfície, espraia-se uma das mais impressionantes reservas naturais dos Açores.
A religiosidade é particulamente viva nos Açores e as festas do Espírito Santo (50 dias depois do Domingo de Páscoa) constituem um momento alto de devoção e participação comunitária. Na paisagem arquitectónica da Terceira, tornam-se notáveis os 70 impérios construídos entre o século XVII e o século XX. São construções garridas, quadrangulares ou rectangulares, com apenas um piso. Erguidas em honra do Divino Espírito Santo, fazem parte da paisagem da ilha e agregam os fiéis durante as festas. Aqui é também recolhido o bodo de pão e carne destinado aos mais desfavorecidos. A Rota dos Impérios procura ligar os imóveis mais significativos.
As lapas são um dos grandes contributos dos Açores para a gastronomia mundial. Por norma, são grelhadas e acompanhadas de um molho com diversas variantes regionais, mas sempre preservando o original sabor do molusco. Antigamente, eram ingeridas cruas, como complemento à dieta dos pescadores, mas tornaram-se uma iguaria que o viajante não deve perder no seu périplo pelo território autonómico. Nos últimos anos, levantaram-se problemas de sustentabilidade deste recurso e o Governo Regional decidiu impor limites diários de captura de lapa-brava e lapa-mansa e estipular um período de defeso, durante o qual não são permitidas capturas.
Entre 1957 e 1958, intensa actividade vulcânica reconfigurou a freguesia do Capelo, no Faial. Os Capelinhos tornaram-se parte da paisagem açoriana.
Em Janeiro, a Comissão de Conservação de Pescas e Vida Selvagem da Florida criou um torneio de caça ao pitão-birmanês, chamado Desafio Pitão, atribuindo prémios monetários aos participantes que apresentassem o maior número de pitões mortos e o maior pitão capturado. Cerca de 1.600 pessoas inscreveram-se em duas categorias: os amadores e os profissionais. O objectivo do torneio, de acordo com Frank Mazzotti, professor de ecologia da vida selvagem da Universidade da Florida, era conter as cobras, conhecer melhor a forma como vivem e chamar a atenção para o problema das espécies invasoras.
Desde 2010, o estado da Florida proibiu pitões-birmaneses e outras espécies de serpentes gigantes como animais de estimação.
O comércio das cobras parece ter entretanto os dias contados. Desde 2010, o estado da Florida proibiu pitões-birmaneses e outras espécies de serpentes gigantes como animais de estimação, e o Departamento de Pescas e Vida Selvagem dos EUA impôs uma proibição federal sobre a sua importação ou transferência entre estados. No final do mês do concurso, o caçador profissional de cobras Ruben Ramirez tinha o maior número de pitões capturados: 18. Os membros da equipa de Ramirez queriam trazer as suas capturas vivas, mas foram informados de que seriam desclassificados. Por isso, tiveram de disparar sobre as cobras com uma espingarda. Um membro da equipa desabafou: “Foi como se disparasse contra o meu próprio cão.”