No final de 1887, quando o naturalista Francisco Newton desembarcou na ilha de São Tomé, rapidamente se apercebeu de que a fauna diferia bastante da da ilha vizinha de Príncipe. E foi desvendado, finalmente, o mistério sobre o bico-grossudo, que estava suspenso desde a reportagem  "Enigma de São Tomé e Príncipe" publicada em Fevereiro de 2012.

Texto e Fotografia Alexandre Vaz

Apoiado por uma bolsa da National Geographic Society, o biólogo Martim Melo concluiu um enigma com mais de um século. O bico-grossudo chamar-se-á a partir de agora Crithaga concolor.

No ano seguinte, abateu uma ave desconhecida que viria a ficar conhecida como bico-grossudo de São Tomé. Este exemplar permanece na colecção do Museu de História Natural Britânico em Tring. Menos sorte tiveram outros dois exemplares abatidos por Newton em 1890 e que seriam consumidos no incêndio do Museu de História Natural de Lisboa em 1978.

Foram precisos 101 anos para que um grupo de observadores de aves voltasse a avistar esta ave.

Foram precisos 101 anos para que um grupo de observadores de aves voltasse a avistar esta ave. Alguns autores pensavam tratar-se de um parente dos tecelões, enquanto outros defendiam tratar-se de um fringilídio, família a que pertencem os tentilhões, pintassilgos e canários. Em 2002, o biólogo Martim Melo debruçou-se sobre o enigma. Em três anos de trabalho de campo, capturou – não com uma caçadeira como Newton, mas com redes – três exemplares. Em 2011, registou a presença da ave em novas áreas e capturou mais um exemplar. As amostras de sangue destes indivíduos continham o material genético que permitiu desvendar a história evolutiva da espécie. O equívoco com mais de um século estava estampado no nome científico.
O bico-grossudo, sabemos agora, não pertence ao género Neospiza, mas sim Crithaga, fazendo dele o maior canário do mundo.

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