A água infiltrada na areia fina das praias começa a escorrer para o mar com a maré a vazar. Pequenos sulcos recortam os areais mais perto da linha de água. Neste ambiente, ocorre um dos casos mais estranhos de simbiose do mundo animal, um exemplo notável de engenharia biológica onde alguns animais marinhos tiram proveito da fotossíntese hospedando algas.

Texto e Fotografia Luís Quinta

 

Fonte: “Interception of nutrient rich submarine groundwater discharge seepage on European temperate beaches by the acoel flatworm, Symsagittifera roscoffensis” (2013), Liliana Carvalho, Carlos Rocha, Alexandra Fleming, Cristina Veiga-Pires e Jaime Aníbal.

O acoel (Symsagittifera roscoffensis), um ser vivo minúsculo, agrega-se em acumulações maciças parecendo algas marinhas (aqui fotografadas na frente atlântica de Almada). Os corpos espalmados são transparentes, mas, no interior, vivem algas Tetraselmis, que contêm clorofila e são capazes de realizar a fotossíntese. “Migram para as camadas mais profundas do sedimento durante a noite e voltam à superfície quando aparece a luz do dia”, explica Marco Rubal García, biólogo do Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto.

Os corpos espalmados são transparentes, mas, no interior, vivem algas Tetraselmis.

Os cloroplastos das microalgas dão a cor verde ao organismo de 2 a 4mm. As algas Tetraselmis convolutae podem atravessar vários ciclos de vida nos corpos destas criaturas, absorvendo a luz solar através da pele clara, fotossintetizando alimentos e produzindo oxigénio. Por sua vez, beneficiam de protecção, ambiente estável e alimento, pois reciclam os resíduos do hospedeiro e o dióxido de carbono do indivíduo.
Após investigação na zona de Olhos de Água, um artigo da engenheira biológica Liliana Carvalho e colegas do Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Algarve, publicado em Marine Pollution Bulletin, conclui que o acoel mostra um grande potencial como sequestrador natural de nitratos produzidos pela actividade humana, desempenhando assim um papel importante na “reciclagem” natural nas zonas de fronteira entre mar e terra, com a vantagem de não ter efeitos tóxicos associados.

 

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