sargaço

Sylvia Earle investiga sargaço ao largo das Bermudas numa expedição de 2010, que integrou a iniciativa Mission Blue para explorar o oceano. “O sargaço representa um brilho de esperança num oceano conturbado”, diz.

Texto de Sylvia A. Earle 

Quase consigo sentir a energia a pulsar quando a luz do Sol, o dióxido de carbono e a água operam a magia da fotossíntese enquanto vagueio, envolta numa cortina dourada de sargaço, ao largo da costa das Bermudas. Fico maravilhada com esta sensação e entusiasmada ao ver as minúsculas bolhas de oxigénio produzidas por biliões de diatomáceas, bactérias verdes azuladas e outros tipos de fitoplâncton na água ultralímpida em meu redor.

Enquanto laboratório vivo, o Mar dos Sargaços  tem-nos fornecido descobertas sobre os motivos pelos quais o oceano é importante para todos, em todo o lado e em todos os momentos.

Em 1986, foram descobertos no Mar dos Sargaços os Prochlorococcus, os organismos fotossintéticos mais pequenos e numerosos do mundo. Actualmente, sabe-se que existem em todo o mundo e produzem até 20% do oxigénio existente na atmosfera. As algas e os organismos microscópicos fornecem oxigénio à vida marinha e mais de metade do oxigénio atmosférico que respiramos. Em conjunto com a água, o dióxido de carbono que capturam é transformado em açúcar, contribuindo para abastecer a complexa rede alimentar do oceano cujo auge são os atuns, os tubarões, as baleias… e nós.

Mergulhando num pequeno submersível no Mar dos Sargaços, ao largo das Bermudas, na década de 1930, o zoólogo William Beebe e o engenheiro Otis Barton, observaram formas de vida que existem a quase um quilómetro de profundidade durante o dia e nadam em direcção à superfície à noite para se alimentarem de fitoplâncton, de algas à deriva e uns dos outros. Estas hordas migrantes de pequenos peixes e invertebrados, a maior concentração de animais do planeta, figuram agora de forma proeminente na ciência climática como “carbono azul” – dióxido de carbono capturado nos tecidos de criaturas mais pequenas do que os pontos finais desta página ou tão grandes como as baleias-azuis.

Em terra, as florestas também sequestram o dióxido de carbono que contribui para o aquecimento global, mas os ambientes terrestres ocupam menos espaço do que o oceano. No Mar dos Sargaços, pelo menos 14 grandes grupos de animais vivem ou nadam entre as florestas flutuantes de algas. Junto das Bermudas, o biólogo Laurence Madin encontrou esse número numa única amostra de plâncton.

Há décadas que as correntes do Mar dos Sargaços são avaliadas: a temperatura e composição química da água foram medidas e a migração da vida selvagem documentada. As conclusões destes estudos contribuíram para o nosso conhecimento sobre a influência do oceano sobre o clima e a meteorologia e sobre os processos subjacentes à nossa existência.

O Mar dos Sargaços também testemunha a dureza do impacte humano a nível global, desde a eliminação dos resíduos à pesca ilegal e não regulamentada. Em 2010, formou-se a Aliança do Mar dos Sargaços numa colaboração com o governo das Bermudas, substituída em 2014 pela Comissão do Mar dos Sargaços. A nossa missão consiste em proteger o Mar dos Sargaços, usando-o como modelo para o que pode ser feito a nível regional, enquanto a ONU tenta proteger o oceano a nível global. 

A oceanógrafa Sylvia Earle é exploradora residente da National Geographic e co-directora da Aliança do Mar dos Sargaços. Fundadora da Mission Blue and Deep Ocean Exploration and Research, “Sua Profundeza” trabalhou como cientista na NOAA.

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Um cardume alimenta-se sob tapetes translúcidos de algas douradas. Em “Vinte Mil Léguas Submarinas”, Júlio Verne comparou o sargaço a uma “carpete de algas”.

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