cachalote

Texto e fotografia: Nuno Vasco Rodrigues

Cerca de trinta espécies de cetáceos estão documentadas para a região dos Açores, um hot-spot mundial destes animais e um laboratório vivo, mas ainda pouco se sabe sobre a maioria. Com actividade tipicamente oceânica, migrações de grande escala e carácter esquivo, os cetáceos não são fáceis de estudar, apresentando desafios logísticos e financeiros à investigação.

O aparecimento de carcaças destes animais afigura-se por isso uma oportunidade única para saber mais sobre eles, nomeadamente as causas de morte, as doenças associadas, a presença de contaminantes, os padrões reprodutivos e a dieta, entre outros parâmetros indicativos do estado das populações locais. Nos últimos 31 anos, em todo o arquipélago, a Direcção Regional dos Assuntos do Mar registou a ocorrência de 458 arrojamentos de cetáceos, pertencentes a 19 espécies. O cachalote figura em segundo lugar (16% das ocorrências) numa lista liderada pelo golfinho-comum (26%) e onde 7% dos animais não são passíveis de identificação, dado o estado avançado de decomposição.

Se, por um lado, o aumento gradual das mortalidades registadas (50% de aumento a cada década) pode ser encarado como um sinal de alarme e reflexo da intensificação de fenómenos antropogénicos (que comprovadamente representam ameaças à vida destes animais), também a “amostragem” tem aumentado consideravelmente ao longo deste período, havendo hoje mais embarcações na água, o que potencia o aumento do número de registos. “O aumento da capacidade de resposta aos arrojamentos, do conhecimento sobre a ecologia das espécies e do modo como são afectadas pelas actividades humanas” são factores decisivos para a conservação destes animais, diz Marco Aurélio Santos, biólogo da Rede de Arrojamentos de Cetáceos dos Açores.

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