brama dos veados

As saídas de campo para avistamento da brama dos veados são uma das experiências mais inesquecíveis de contacto com a vida selvagem.

Texto e fotografias: Luís Quinta

A coberto da escuridão, posiciono-me na berma de uma estrada de terra batida no topo da serra da Lousã. Ao longe, já são audíveis os bramidos guturais dos veados.

À minha frente, tenho o território de um grande macho, que em breve fará a sua serenata. Está escondido no meio da floresta onde passou a noite, mas, à primeira claridade do dia, irá exibir-se em campo aberto para ser ouvido, visto e para que as suas capacidades físicas sejam apreciadas pelas fêmeas que andarem na zona. No meu relógio, já passa bem das sete da manhã e, do nada, um bramido generoso dá início à actividade.

A época da brama dos veados está no auge e o cenário de serranias e vales dá outra dimensão a este espetáculo natural. Aos primeiros raios de luz, um macho com uma armação generosa de 14 pontas pisa o mato rasteiro de carqueja e queiró num trilho bem definido.

Ajusto o binóculo. O animal pára, ergue o focinho e solta um bramido longo, replicado por mais dois ou três sons curtos. A testosterona que corre naquelas veias é tal que todo o animal treme, baba-se, urina. Parece descontrolar-se em êxtase. Os sons dos bramidos são cavernosos, graves, monocórdicos e potentes. Dão outra dimensão ao animal.

Com o decurso dos meses da brama (até meados de Novembro), toda esta energia, poder e excitação vão diminuindo. Após a primeira semana de “aquecimento”, a brama estabiliza em força nas serranias do Centro e Norte de Portugal durante algumas semanas.

Com a ajuda do binóculo, descubro mais silhuetas nas encostas da serra. Fêmeas, crias e outros machos circulam pelos carreiros desenhados na vegetação. Ao longe, a atravessar uma estrada, localizo um grupo de javalis, com duas fêmeas e muitos javalinos.

Enquanto espero por mais uma exibição de poder do macho que tenho a menos de cem metros de mim, à distância de um braço, vejo um bicho-pau a mover-se na carqueja.

O seu disfarce é perfeito e só o movimento trai a sua camuflagem. Olho em redor e encontro mais insectos vistosos, gafanhotos de várias cores e tamanhos, louva-a-deus e aranhas. De longe, distingo várias espécies de lagartas. Estes matos estão repletos de insectos e pequenas aves que os caçam.

O veado dá mais uns passos e tem nova descarga de energia, de som, de tremuras de líquidos… Pretende partilhar toda aquela agitação com as fêmeas que circularem nas proximidades.

Pelas 8h30 da manhã, toda a acção diminui eo maior mamífero terrestre de Portugal desce aos vales, infiltra-se nos bosquetes, procura a sombra e descansa até final do dia para novo recital. Com a ascensão do Sol no céu, o calor desperta outros animais que entorpeceram com o frio da noite. As borboletas, as libelinhas e os escaravelhos começam a dar nas vistas.

Abandono o meu posto de observação e sigo caminho pela estrada de terra batida com a câmara fotográfica atento ao micromundo dos insectos e das plantas.

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