Fotografia de um dos últimos exemplares de óo-de-kauai.
A espécie endémica do arquipélago do Havai foi avistada pela última vez em 1985 e declarada extinta em 2000, após várias expedições confirmarem o desaparecimento da família Mohoidae. Doenças transmitidas por mosquitos e a destruição do seu habitat, causada por furacões, provocaram o seu adeus definitivo.
Texto: Aitana Palomar S.
Durante centenas de anos, nas florestas de altitude da ilha havaiana de Kauai, viveu a última espécie de uma das famílias de aves mais conhecidas do arquipélago, os Moho braccactus da família Mohoidae. Estas aves, caracterizadas pelo seu canto alegre e aflautado, foram baptizadas pelos nativos como ʻōʻō de Kauaʻi ou, directamente, ʻōʻōʻāʻā, com base em duas palavras havaianas: ʻōʻō, que descreve o som onomatopeico do seu chamamento, e āʻā, que significa anão ou pequeno.
A família de aves canoras Mohoidae teve origem há entre 15 e 20 milhões de anos e agrupava cinco espécies divididas em dois géneros: Moho e Chaetoptila. Os Moho braccactus, ou oó-de-kauai, caracterizavam-se por serem as aves mais pequenas de todas as ʻōʻō havaianas, medindo apenas 20 centímetros de comprimento. Além disso, eram as únicas que tinham a íris amarela. A plumagem do seu corpo era entre o negro e o castanho-ardósia, um tom que contrastava com as chamativas plumas amarelas da parte superior das suas patas.
As oó-de-kauai construíam os seus ninhos nas cavidades das árvores dos desfiladeiros florestados da ilha e alimentavam-se de pequenos invertebrados, frutas e néctar de flores, ao qual acediam com o seu bico curvo e afilado. Eram umas aves extraordinariamente vocais, muito conhecidas pelo seu canto melódico e distinto.
Factores que aceleraram a sua extinção
Até inícios do século XX, as oó-de-kauai eram muito comuns na ilha. No entanto, a partir de meados do século esta espécie foi desaparecendo aos poucos, aproximando-se da extinção. Com efeito, em duas ocasiões (1940 e 1960) foi declarada extinta e posteriormente redescoberta por vários biólogos, entre os quais John Sincock.
Foram muitos os factores que causaram a extinção definitiva dos oó-de-kauai no final do século XX. Por um lado, a introdução de vários predadores como o rato-polinésio, o mangusto-indiano ou o veado-doméstico. Por outro, as doenças avícolas transmitidas pelos mosquitos. E, por fim, a destruição do seu habitat, causada pelos furacões Iwa e Iniki, dois dos que mais danos provocaram na história do arquipélago.
Para se protegerem dos mosquitos, as oó-de-kauai abandonaram os terrenos mais altos da ilha, mudando-se para as florestas da Reserva Natural de Alaka’i. O problema foi que as árvores destas florestas não eram adequadas para a construção dos seus ninhos, o que fez com que a população sofresse uma redução drástica: havia apenas 34 indivíduos em 1960.
Os últimos registos de oó-de-kauai
Dez anos mais tarde, em 1970, o biólogo John Sincock captou o único vídeo existente de um oó-de-kauai numa película Super 8 e outros cientistas gravaram o som do canto desta ave em diversas ocasiões.
A ilha de Kauai é a mais antiga das ilhas do arquipélago do Havai.
A década de 1980 foi decisiva para os Moho braccactus: em 1981 foi encontrado um dos últimos casais de oó-de-kauai e a espécie foi avistada pela última vez em 1985. Pouco depois, em 1987, o especialista em história natural David Boynton ouviu o canto de acasalamento do último oó-de-kauai. Na gravação áudio captada por Boynton é possível ouvir o último macho da espécie chamando desesperadamente por uma fêmea que nunca lhe responderia.
A morte deste último oó-de-kauai assinalou um ponto de viragem na biodiversidade, tanto das ilhas do Havai como do planeta, e marcou o fim de uma espécie, bem como a extinção de toda uma família de aves dos tempos modernos.
Artigo publicado originalmente em castelhano em nationalgeographic.com.es