Os cientistas estão a obter conhecimentos essenciais sobre a vida dos orangotangos, mas os esquivos símios vermelhos enfrentam um futuro precário.

 Texto Mel White   Fotografia Tim Laman

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Um macho de orangotango desafia um rival na ilha de Samatra, mostrando-lhe os dentes e abanando ramos. Os exemplares desta ilha são agora reconhecidos como subespécie e existem cerca de 14 mil em ambiente selvagem.

 Por vezes, acho que escolhi o objecto de estudo mais difícil do mundo”, confidencia Cheryl Knott, enquanto nos sentamos sob a copa das árvores junto do seu posto de investigação de orangotangos na região ocidental de Bornéu. Durante a conversa, os colegas de Cheryl trabalham na floresta do Parque Nacional de Gunung Palung, na Indonésia, utilizando unidades de GPS e iPads, acompanhando as movimentações diárias dos orangotangos, tomando nota das suas actividades, alimentação e interacções com outros membros da espécie.

Ao contrário dos gorilas e chimpanzés, os orangotangos levam vidas essencialmente solitárias.

Ao contrário dos gorilas e chimpanzés, os orangotangos levam vidas essencialmente solitárias. Passam quase todo o tempo na copa das árvores, percorrem longas distâncias a vaguear e ocupam maioritariamente florestas acidentadas ou zonas baixas pantanosas, de difícil acesso aos seres humanos. Em virtude disso, o orangotango permaneceu, durante muito tempo, um dos animais terrestres de grande porte menos conhecidos da Terra. Só nos últimos 20 anos é que as provas científicas começaram a sobrepor-se à especulação, com uma nova geração de investigadores a acompanhar os símios fugidios nas ilhas de Bornéu e Samatra, duas das últimas regiões habitadas pelos orangotangos.

Há mais de duas décadas que Cheryl supervisiona as investigações em Gunung Palung, observando vários aspectos da história da vida dos orangotangos, mas concentrando-se especialmente na forma como a disponibilidade de alimento afecta as hormonas femininas e a reprodução. “Quando começámos o nosso trabalho, ninguém estudara as hormonas dos símios em ambiente selvagem”, comenta.

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Vendidas como mascotes a preços elevados no mercado negro, as crias só podem ser capturadas se as suas progenitoras, altamente protectoras, forem abatidas. Estes órfãos são criados no centro internacional Animal Rescue.

 Os estudos têm um significado especial porque as fêmeas de orangotango só têm crias a cada seis a nove anos. Nenhum outro mamífero tem um intervalo tão grande entre nascimentos. A investigação tem enormes implicações em matéria de fertilidade humana porque nós e os orangotangos somos imensamente semelhantes.

Como é comum em várias florestas do Sudeste Asiático, as árvores de Gunung Palung produzem poucos ou nenhuns frutos na maioria das estações. No entanto, a cada quatro anos, aproximadamente, árvores de várias espécies geram enormes quantidades de fruto num processo de produção de sementes em massa. O fenómeno levou Cheryl Knott a interrogar-se sobre a ligação entre a abundância de alimento e a reprodução dos orangotangos.

O trabalho de Cheryl Knott demonstrou que as hormonas reprodutivas das fêmeas de orangotango atingem o auge quando os frutos são mais abundantes na floresta, uma adaptação notável a um ambiente condicionado por picos e depressões. “Faz sentido”, resume a investigadora. “É mais provável as fêmeas conceberem durante os períodos com muita fruta.”

Os avanços tecnológicos (incluindo a possibilidade de utilizar drones para encontrar e seguir orangotangos em terrenos acidentados) vão quase seguramente conduzir a uma aceleração no ritmo da descoberta, já de si muito mais rápido do que era há apenas duas décadas. Isto, claro, partindo do princípio de que ainda haverá orangotangos para estudar nas florestas de Bornéu e de Samatra.

Nas décadas de 1980 e 1990, alguns conservacionistas previram que os orangotangos se extinguiriam num período de 20 a 30 anos.

Nas décadas de 1980 e 1990, alguns conservacionistas previram que os orangotangos se extinguiriam num período de 20 a 30 anos. Felizmente, isso não aconteceu. Sabe-se agora que existem muitos mais milhares de orangotangos do que se pensava haver na viragem do milénio.

Isso não significa que a espécie se encontre num patamar estável. Os valores mais elevados provêm de métodos de levantamento aperfeiçoados e da descoberta de populações anteriormente desconhecidas e não a um aumento efectivo dos números. Com efeito, a população geral de orangotangos decresceu pelo menos 80% nos últimos 75 anos. O facto de o cientista Erik Meijaard, especialista em tendências demográficas da espécie, estar disposto a afirmar que só vivem 40 mil a 100 mil orangotangos em Bornéu serve de indicador das dificuldades em torno da investigação sobre orangotangos. 

Os conservacionistas de Samatra estimam que restem apenas 14 mil na ilha. Grande parte desta perda foi motivada pela destruição de habitat devido ao abate de árvores e à rápida disseminação da palmeira-dendém, cujo fruto é comercializado para o fabrico de óleo de palma, na culinária e em diversos produtos alimentares.

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Tentado pela fruta, um orangotango de Bornéu trepa 30 metros até à copa da árvore. Alguns machos pesam quase 90 quilogramas. Os orangotangos são os maiores animais arborícolas do mundo.

 Existe outro factor a considerar. Um relatório redigido em 2013 por vários investigadores concluiu que só em Bornéu até 65 mil destes símios poderão ter sido mortos nas últimas décadas. Alguns foram mortos pela sua carne por comunidades que se esforçam para sobreviver. Outros foram mortos por assaltarem as culturas ou protegerem as suas crias. Os rostos expressivos das crias tornam-nas altamente valiosas no mercado negro dos animais de estimação, tanto em território indonésio como contrabandeadas a partir de Bornéu ou de Samatra para destinos estrangeiros. Os ferozes instintos protectores das fêmeas de orangotango contribuem para que a forma mais fácil de obter uma cria seja matando a sua progenitora – uma tragédia a dobrar, que não só retira dois animais à natureza, como também elimina qualquer descendência adicional que a fêmea pudesse ter durante o seu tempo de vida.

Uma cria com 11 meses imita a progenitora à hora da refeição. O juvenil ficará com ela até aos 10 anos, aprendendo a sobreviver. Um dos ensinamentos é a capacidade para encontrar os frutos mais nutritivos da floresta.

Em centros de reabilitação como o Animal Rescue, junto de Gunung Palung, o influxo constante de orangotangos órfãos mostra que estas mortes continuam a ser um problema grave. Actualmente, vivem mais de mil orangotangos em centros de reabilitação e o ensino de capacidades de sobrevivência a jovens orangotangos é uma tarefa difícil, sem garantias.

As ameaças enfrentadas pelos orangotangos surgem na altura em que o recente surto de investigação revela a surpreendente variedade da sua composição genética, estrutura física e comportamento, incluindo os primórdios do desenvolvimento cultural, que poderá ajudar-nos a compreender a nossa própria transição, de símios para humanos.

Durante vários séculos, os cientistas pensaram que todos os orangotangos pertenciam a uma espécie

Durante vários séculos, os cientistas pensaram que todos os orangotangos pertenciam a uma espécie, mas, nas últimas duas décadas, novos dados levaram os investigadores a considerar os orangotangos de Bornéu e de Samatra como espécies diferenciadas e ambas criticamente ameaçadas. Surpreendentemente, os investigadores descobriram que uma população recentemente encontrada num local denominado Batang Toru, na região ocidental da Samatra, é na verdade geneticamente mais próxima dos orangotangos de Bornéu do que das restantes populações de Samatra.

Alguns investigadores crêem que os orangotangos de Batang Toru diferem suficientemente dos outros para constituírem uma terceira espécie. Reduzidos a quatrocentos indivíduos, estão sob a ameaça de um projecto hidroeléctrico que poderá fragmentar o seu habitat e abrir a zona a mais intrusão humana, incluindo a caça ilegal. Além disso, várias populações de Bornéu são agora consideradas subespécies separadas, com base em factores como diferenças no tamanho corporal, vocalizações e adaptações ao ambiente. 

Fileiras de palmeiras substituem a floresta húmida junto do Parque Nacional de Gunung Palung, em Bornéu. Vastas extensões de habitat de orangotangos foram eliminadas pelas produções de óleo de palma. Mosaico composto por três imagens.

Do alto do seu poleiro, no dossel da floresta húmida de Samatra, um macho de grande porte conhecido como Sitogos salta para o tronco de uma árvore morta e, usando a totalidade dos seus 90 quilogramas, abana-a para trás e para a frente até a partir junto da base. No último instante, Sitogos salta para um ramo próximo enquanto a árvore cai na minha direcção, com um estrondo colossal.

Os orangotangos fazem muito isto quando estão zangados e são muito bons nisso. A árvore não teria caído com mais precisão se fosse apontada com uma mira laser. Sitogos significa “o forte” no idioma batak do Noroeste de Samatra. Fiel ao seu nome, o grande macho fita-me, abana o ramo ao qual está agarrado e emite um chamamento gutural e gorgolejante. Pode haver tigres de Samatra e ursos-malaios ao nível do solo na floresta, mas aqui, nas copas das árvores, ele é o rei.

Abrindo os braços até à sua envergadura máxima de dois metros, Sitogos desloca-se entre o dossel florestal utilizando as suas mãos de dedos longos e pés hábeis para passar de ramo para ramo. Uma jovem fêmea, Tiur (“optimista”), segue-o a cada passo, aproximando-se bastante quando ele pára. Muito mais pequena e com uma constituição mais delicada, ela continua a persegui-lo, embora ele pareça indiferente. Deitam-se juntos num ramo, comendo flores e partindo folhas de fetos semelhantes a taças para beber a água contida no interior. Quando ele se inclina para a frente sobre um dos membros, Tiur cata-lhe as costas.

Desenvolveu músculos fortes, pêlos mais compridos, almofadas carnudas (as flanges) de ambos os lados do rosto, e um enorme papo gutural que amplifica os seus chamamentos.

Algures num passado recente, Sitogos passou por uma transformação espantosa. Durante anos, foi pouco maior do que Tiur. A certa altura, uma vaga de testosterona inundou-lhe o organismo. Desenvolveu músculos fortes, pêlos mais compridos, almofadas carnudas (as flanges) de ambos os lados do rosto, e um enorme papo gutural que amplifica os seus chamamentos.

A cena sibarítica observada no dossel florestal é a recompensa de Sitogos, mas esta transformação física tem um preço. Algures ao longe, ouve-se o chamamento de outro macho de orangotango. Sitogos levanta-se, como que hipnotizado, e começa-se a avançar na direcção do seu concorrente.

Em muitas espécies, os machos sofrem profundas transformações físicas à medida que amadurecem, mas o processo é particularmente intrigante nos orangotangos. Nem todos os machos desenvolvem corpos enormes, flanges faciais e papos guturais como Sitogos. Muitos conservam corpos mais pequenos depois de atingirem a maturidade sexual, transformando-se mais tarde do que outros indivíduos. Alguns nunca chegam a desenvolver-se. O mecanismo por detrás desta divergência, chamado bimaturismo, é um dos maiores mistérios da zoologia.

Um macho de orangotango de Bornéu utiliza um ramo com folhas como guarda-chuva improvisado. Este comportamento adquirido é um exemplo da “cultura” dos orangotangos, transmitida de geração em geração. 

 Nas florestas do Norte de Samatra, um único macho dominante com flanges controla um grupo local de fêmeas. Vários machos da região conservam corpos mais pequenos e não desenvolvem flanges, evitando assim os confrontos que, inevitavelmente, ocorrem quando vários machos tentam afirmar o seu domínio (até eles próprios poderem tentar competir pelo papel dominante). A única oportunidade que os machos mais pequenos têm de transmitirem os seus genes é assistindo ao jogo a partir da linha lateral, fora do alcance do líder, esgueirando-se até ao grupo para acasalar sempre que possível.

Em Bornéu, pelo contrário, quase todos os machos desenvolvem flanges. Deambulam por áreas de grandes dimensões, sem que qualquer macho consiga controlar um grupo coeso de fêmeas. A melhor possibilidade de acasalamento do macho consiste em crescer, tornar-se forte e participar na competição, o que resulta em mais confrontos e ferimentos.

Com máscaras para resguardar os animais contra os agentes patogénicos humanos, os funcionários da “escola florestal” ensinam orangotangos órfãos a desenvolver capacidades e comportamentos naturais para conseguirem sobreviver sozinhos.

 Num trilho não muito distante do posto de investigação de Cheryl Knott, vejo provas destes conflitos. Um macho chamado Prabu está sentado no ramo alto de uma figueira, espreitando ocasionalmente para baixo e revelando uma ferida recente na sua testa e um golpe no lábio inferior, que o deixou sem um pedaço de carne. Era evidente que Prabu estivera envolvido numa luta: mas teria vencido ou perdido?

Enquanto o observo, ele levanta-se e emite um volumoso chamamento: é uma excitante e complicada miscelânea composta por grunhidos graves e uivos gorgolejantes que pode chegar a mais de um quilómetro na floresta. Por norma, os chamamentos longos dos machos duram menos de um minuto, mas Prabu demora-se mais de cinco minutos. Coberto de sangue, mas desafiador, Prabu ainda proclama a sua força aos machos rivais e potenciais parceiras femininas.

Ilustração: Fernando G. Baptista, Matthew W. Chwstyk e Ryan Williams; Manyun Zou Fontes: Tim Laman; Cheryl D. Knott, Universidade de Boston; Carel P. van Schaik, Universidade de Zurique; Serge Wich Universidade John Moores, Liverpool; Meredith Bastian, Zoológico Nacional Smithsonian.

 Alguns cientistas crêem que a dicotomia entre os machos de orangotango se deve, parcialmente, às diferentes histórias geológicas das ilhas de Samatra e Bornéu. Samatra é mais fértil do que Bornéu: nesta última ilha, o solo velho e desgastado tem carência de nutrientes necessários para a flora e muitas florestas são pautadas pelos ciclos de altos e baixos das árvores que geram frutos em massa com longos intervalos temporais. Os orangotangos de Samatra não têm de percorrer longas distâncias para encontrar alimento em quantidade suficiente e a densidade de fêmeas é mais elevada. Isto dota os machos da capacidade para permanecerem num só local e estabelecerem ligações. O ambiente relativamente mais pobre de Bornéu deu origem a um registo de “vale-tudo”, em que os indivíduos deambulam por áreas amplas, procurando alimento e oportunidades de acasalamento onde possível.

Isto pode explicar por que motivo o desenvolvimento das características próprias do macho dominante difere entre ilhas. Levanta, contudo, uma questão muito mais complicada.

“Como sabe um macho de Samatra que, se lhe crescerem flanges e não for ele o líder, não vai conseguir acasalar?” Carel van Schaik lança a pergunta ao entrarmos no seu gabinete na Universidade de Zurique, onde ele e os seus colegas publicaram dezenas de artigos de investigação sobre orangotangos de Samatra e de Bornéu.

A resposta, óbvia, à pergunta é: o macho não “sabe”, no sentido humano do termo. “Não é algo que eles aprendam”, diz o meu interlocutor. “Tem de haver um interruptor e a sensibilidade desse interruptor tem de ser diferente em populações diferentes. Tem de ser, de alguma forma, genética.”

Continua por responder a pergunta sobre a maneira como o desenvolvimento masculino é activado.

Continua por responder a pergunta sobre a maneira como o desenvolvimento masculino é activado, em parte devido ao mesmo desafio que se apresenta, em tantas frentes, aos investigadores de orangotangos: os seus sujeitos são muito difíceis de estudar.

Além da diversidade fisiológica, os orangotangos exibem diferenças de comportamento transmitidas de indivíduo para indivíduo e de geração para geração num processo que pode, com toda a legitimidade, ser identificado como cultural.

“Num dos nossos locais de investigação, ouvimos um chamamento utilizado pelas progenitoras para reconfortarem as crias”, disse-me Maria van Noordwijk, membro da equipa de Zurique que estuda cuidados maternais entre primatas. “Chamamos-lhe pigarreio. Havia uma fêmea que já conhecíamos muito bem antes de ela ter a primeira cria. No dia seguinte a parir, ela já fazia esse chamamento. Nunca lho ouvíramos antes. É, claramente, algo que aprendeu com a sua progenitora.”

Os investigadores não analisam só o comportamento dos animais quando observam orangotangos.

“Supostamente, os primatas não deveriam fazer aprendizagem vocal”, continua Carel van Schaik. “E, no entanto, a não ser que acreditemos que isto é genético, hipótese que eliminámos, é muito provável que seja cultural. Aquilo que os orangotangos fazem não é como a voz humana, mas a compreensão, a aprendizagem e a imitação dos sons estão lá.”

Os investigadores não analisam só o comportamento dos animais quando observam orangotangos. Subjacente aos dados recolhidos, encontra-se a seguinte pergunta: o que podem os orangotangos dizer-nos sobre os humanos?

A revelação de todos os segredos contidos nos cérebros e nos corpos destes nossos parentes simiescos implica preservar todo o espectro de adaptações. A perda de cada população individual elimina oportunidades de aprender com as suas adaptações ambientais e culturais singulares.

Passei algum tempo no terreno na companhia de Marc Ancrenaz, responsável desde 1996 por um projecto de conservação de orangotangos no rio Kinabatangan, em Sabah, uma região do Nordeste de Bornéu. Aqui, várias centenas de orangotangos vivem num corredor estreito de habitat degradado ao longo do rio, no meio de aldeias, elas próprias rodeadas por um mar de palmeiras.

Fogos para limpar a floresta e plantar palmeiras e outras culturas queimaram 2,5 milhões de hectares na Indonésia em 2015. 

 “É claro que preferiríamos floresta primária, mas é isto que temos”, comenta Marc. “Há vinte anos, a ciência pensava que os orangotangos não conseguiam sobreviver fora da floresta primária. Ficámos muito surpreendidos aqui. Como podem os orangotangos existir num sítio onde supostamente não deveriam estar?” Marc é um de vários investigadores que consideram a paisagem alterada pela acção humana essencial para a sobrevivência dos orangotangos. “Acho que isto representa o futuro da biodiversidade”, afirma.

Na região ocidental de Bornéu, Cheryl criou uma organização para trabalhar com comunidades locais no desenvolvimento de modos de subsistência sustentáveis alternativos.

Na região ocidental de Bornéu, Cheryl criou uma organização para trabalhar com comunidades locais no desenvolvimento de modos de subsistência sustentáveis alternativos, reduzindo o abate ilegal de árvores e a caça furtiva e oferecendo acções formativas sobre conservação nas zonas em redor do Parque Nacional de Gunung Palung. Seguindo o mesmo espírito, Marc implementou programas formativos sobre conservação em escolas e comunidades de Sabah, tentando descobrir maneiras de as pessoas e a natureza coexistirem. Associa-se a pessoas que vivem ao longo das margens do rio Kinabatangan, ajudando-as a ganhar dinheiro com os orangotangos através do ecoturismo e negócios afins. A sua esperança é que os residentes se sintam responsáveis pela sobrevivência dos animais.

Para os orangotangos sobreviverem mantendo a sua diversidade actual, governos e conservacionistas terão de fazer escolhas inteligentes sobre onde criar reservas, a sua gestão e a utilização de recursos limitados. Terão de encontrar maneiras de a espécie coexistir com os seres humanos em duas ilhas onde o habitat diminui constantemente.

Sem condições para sobreviver em ambiente selvagem, este macho passará o resto da sua vida num centro de socorro.

 “Vejo muitas pessoas a tentarem desenvolver esforços de conservação movidas pelo coração e pelos sentimentos, o que é positivo”, comenta Marc. “Mas a conservação tem de apoiar-se em ciência concreta. O objectivo dos cientistas é produzir melhor conhecimento, melhor compreensão da ecologia e da genética dos orangotangos. O resto é apenas utilizar este conhecimento de forma a repercutir-se no ordenamento do território e nas comunidades. É aqui que a conservação, efectivamente, tem lugar.”

Nas florestas de Bornéu e de Samatra, os comportamentos dos orangotangos persistem, mas alguns mistérios das suas vidas têm sido desvendados. Outras descobertas dependerão do sucesso desta combinação de ciência e conservação e de respostas sobre as ligações entre os seres humanos e estes símios tão parecidos connosco.

“Um cientista deve ser objectivo”, resume Cheryl, enquanto conversamos no seu acampamento. “Mas também é humano e é por causa dessa ligação que aqui estou.” 

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