Entre os rios Douro e Vouga, nas montanhas mágicas das serras da Freita, Arada, Arestal e Montemuro, uma pequena espécie passeriforme é acompanhada quase diariamente por um fotógrafo.

Texto Gonçalo Pereira   Fotografia João Cosme

Esquivo e veloz, o melro-de-água concentra-se quase exclusivamente na caça. A sua abundância é um bom indicador biológico dos rios de montanha.

Nos meses frios do ano, quando a esmagadora maioria das pessoas foge do contacto com a água dos rios de montanha, não é invulgar que o fotógrafo João Cosme faça o percurso inverso na serra do Caramulo e caminhe com água pela cintura por alguns dos mais prístinos cursos de água do país. Protegido com um fato de neoprene e imobilizado pela camuflagem, desafia a baixa temperatura e a humidade animado pelo sonho de um projecto fotográfico de longa duração: Cosme fotografa há sete anos o quotidiano de uma mais extraordinárias aves da fauna portuguesa – o melro-de-água.

Os casais de melros-de-água abstraem-se da presença do fotógrafo. 

Como um paparazzo do mundo natural (não é por acaso que a expressão original foi cunhada em italiano para designar os moscardos da vida pública), o fotógrafo esmiúça a vida íntima dos casais desta espécie passeriforme, a única que mergulha para obter alimento. “Embora muito pequeno, o melro é um animal extraordinariamente activo. Vive para caçar”, diz João Cosme. “Alimenta-se de insectos aquáticos, larvas e libélulas e parece obcecado com as presas a ponto de muitos casais só construírem o ninho no momento em que eclodem larvas nestes rios.”

Dissimulado pelo abrigo camuflado, João Cosme funde-se com a paisagem. 

 

O melro pode mergulhar até um metro de profundidade para caçar, utilizando a propulsão das asas para se deslocar debaixo de água. Vigia constantemente os céus, à coca de gaviões e outras aves de rapina. “Todos os anos sou surpreendido por um novo comportamento ou uma nova adaptação ao habitat disponível”, diz o fotógrafo, que persegue a imagem quase impossível. “A cópula do casal acontece fugazmente durante o ano. Um dia, conseguirei captar esse momento”, promete.

A alimentação das crias é contínua.

 

Nos casais desta espécie, é raro encontrar o macho e a fêmea no ninho durante o dia. Revezam-se de forma a que um cace e o outro permaneça nas imediações da prole, vigiando investidas de aves de rapina ou de mamíferos terrestres, como a lontra, a fuinha ou a gineta.

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