elefantes

Um banho de terra é o melhor que se pode imaginar num dia de calor. A camada de terra ajuda a proteger a pele do elefante, actuando como protecção contra a radiação solar e repelente de insectos.

Comunidades indígenas do Norte do Quénia desenvolvem uma colaboração pioneira para salvarem elefantes órfãos.

Texto e Fotografia: Ami Vitale 

Ao longe, os barridos de uma cria aflita quase parecem humanos. Atraídos pelos sons, guerreiros samburu, de lanças em punho, avançam entre a vegetação rumo ao leito de um rio, onde encontram a vítima. A cria está parcialmente submersa em água e areia, presa num dos poços escavados à mão no vale. Só se avista o dorso e a tromba, abanando como uma cobra. 
Se isto tivesse ocorrido no ano passado, os homens teriam arrastado o elefante antes que este poluísse a água e deixá-lo-iam morrer. Agora, porém, agem de forma diferente: graças ao telemóvel, de uso generalizado até nas regiões remotas do Quénia, enviam uma mensagem para o Refúgio para Elefantes de Reteti, a cerca de dez quilómetros de distância. Depois, sentam-se e esperam. 

Os guerreiros samburu encontraram esta cria presa num poço escavado à mão. Na imagem, o vigilante de natureza Lkalatian Lopeta e outros colegas guardam a cria de duas semanas de idade durante a noite, na esperança de que a manada regresse. No entanto, 36 horas mais tarde, a cria estava fraca e desidratada. Por isso, a equipa envolveu-a em faixas, içou-a para um camião e conduziu-a ao refúgio. Baptizada com o nome de Kinya, foi tratada com carinho, mas morreu semanas mais tarde. 

Reteti localiza-se no Norte do Quénia, num território com 394 mil hectares conhecido como Namunyak Wildlife Conservation Trust. Faz parte do território ancestral do povo samburu. Namunyak conta com o apoio e a assessoria do Northern Rangelands Trust, uma organização local que desenvolve colaboração com 33 entidades de conservação comunitárias para garantir a segurança, o desenvolvimento sustentável e a conservação dos animais selvagens. Nesta região, vivem os turkana, os rendille, os borana e os somali, bem como os samburu. Estes grupos étnicos combateram até à morte em defesa da sua terra e recursos. Agora, trabalham para reforçar as comunidades e proteger os cerca de seis mil elefantes que vivem, por vezes com dificuldades, nas imediações. 

O veterinário Mathew Mutinda debruça-se sobre Mugie, de 18 meses de idade, ainda sob o efeito dos soporíferos após o salvamento. A progenitora fora abatida. Mugie foi transportada de avião até uma pista perto do refúgio e, de seguida, conduzida até Reteti. 

O leito do rio para onde os samburu se encaminharam tem um aspecto seco e estéril, mas existe água sob a superfície. Os elefantes conseguem farejá-la e as famílias samburu, guiadas pelos dejectos dos elefantes, escavaram poços estreitos através dos quais alcançam o elixir frio, limpo e rico em minerais. Cada família mantém um poço, cuja profundidade pode atingir cinco metros. Enquanto extraem a água, os samburu entoam um cântico de louvor às suas vacas, atraindo os animais à fonte de vida. Durante os meses de seca (Fevereiro, Março, Setembro e Outubro) os samburu tornam mais profundos os seus “poços cantantes” e os elefantes também visitam os poços. Por vezes, perdem o pé e caem.

Mike Learka levanta o braço para pegar num biberão de fórmula, enquanto Naomi Leshongoro (à direita) despeja outro biberão para uma boca esfomeada.

Os guerreiros não precisam de esperar muito: pouco depois, chega uma equipa de salvamento chefiada por Joseph Lolngojine e Rimland Lemojong, ambos samburu. Os homens apressam-se a escavar as margens do poço, alargando a abertura de maneira a permitir que dois homens entrem no interior e passem um arnês sob a barriga do elefante. Depois, içam-no até à luz do Sol. 
Segue-se agora outra espera, desta feita mais longa. Há esperança de que a manada regresse ao local para beber e que a cria fique em segurança. No entanto, após 36 horas de tensão, torna-se evidente que isso não sucederá. O elefante é então içado para uma viatura e conduzido ao refúgio. 

É hora de almoço para os órfãos esfomeados no Refúgio para Elefantes de Reteti no Norte do Quénia. Fundado no ano passado, emprega samburus empenhados em cumprir o objectivo de devolver os jovens animais à natureza.

Aninhando-se na curva de uma cordilheira em forma de meia-lua, o orfanato para elefantes de Reteti foi fundado em 2016 pelos samburu locais. O financiamento foi assegurado pelas organizações Conservation International, San Diego Zoo Global e Tusk UK. O Departamento de Vida Selvagem e o Northern Rangelands Trust asseguram apoio contínuo. O primeiro elefante salvo, chamado Suyian, chegou no dia 25 de Setembro. As duas dezenas de colaboradores do refúgio são samburu e estão empenhadas em devolver os animais (cerca de uma dezena) à natureza. 

Naomi Leshongoro acaricia o órfão Pokot: já tratara e libertara em estado selvagem cinco jovens elefantes quando foi trabalhar para Reteti, em 2016. Naomi olha para estas crias como se fossem suas filhas.

Mal a cria debilitada chega ao refúgio, Sasha Dorothy Lowuekuduk prepara um biberão de dois litros de uma fórmula especial. Sasha, técnica de veterinária, examina a cria e aplica óleo antibiótico sobre os cortes na pele. Fica decidido que o elefante, uma fêmea, passará a chamar-se Kinya, nome do poço do seu infortúnio. 
À semelhança de muitas crias separadas das mães, Kinya não consegue sobreviver. “A sua morte é tão triste”, diz Rimland Lemojong. “Trabalhámos tanto para que Kinya tivesse uma segunda oportunidade.” 

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