pirilampos 

O comportamento nocturno dos machos do pirilampo Luciola lusitanica não tem paralelo na fauna portuguesa e constitui um espectáculo verdadeiramente mágico para miúdos e graúdos.

Texto: José Manuel Grosso-Silva

Estamos próximo do rio Febros, ao anoitecer, e o percurso vai começar. Andamos um pouco e paramos, já no escuro, para confirmar: “Todos sabem o que fazer?” Todos sabem que terão de caminhar sossegadamente e observar tudo com atenção. “E luzes?” Ninguém usará lanternas nesta saída de campo. Nem mesmo o ecrã do telemóvel.

Com os olhos habituados ao escuro, voltamos a caminhar. Descendo para o rio, começamos a ver luzinhas amareladas em movimento, a piscar. Primeiro uma, depois várias. Em pouco tempo, detectam-se mais do que conseguimos contar. O entusiasmo cresce. As árvores tornam as margens do Febros mais escuras, por isso as luzes vêem-se ainda melhor aí. Porque mexem? Porque piscam?

O que vemos são os machos do pirilampo Luciola lusitanica, que leva Portugal no nome científico ao recordar a província romana da Lusitânia. É um pirilampo fácil de reconhecer, com o seu tórax vermelho vivo e asas nos dois sexos (nas fêmeas da maioria dos pirilampos, as asas anteriores são muito curtas e não há asas posteriores), mas à distância só se vêem as luzes.

pirilampos

Infografia: Anyforms Design

Os pirilampos são bioluminescentes: produzem luz numa reacção química tão eficiente que quase não liberta calor. A luz é utilizada pelos pirilampos para comunicar. E o que vemos é isso mesmo: os adultos de Luciola lusitanica comunicam uns com os outros. Os machos piscam em voo e as fêmeas emitem luz no chão ou na vegetação.

Ao longo do percurso, vemos centenas de machos a voar, piscando como se perguntassem: “Onde estás?”. Com sorte, podemos avistar uma fêmea, respondendo com a sua luz: “Estou aqui!” Na maior parte das vezes, porém, só se detectam os machos que acabaram de pousar ou ainda não levantaram… E édessa forma que machos e fêmeas se conseguem encontrar no escuro.

O Parque Biológico de Gaia, sem pesticidas há décadas e sem iluminação artificial ao longo do percurso, tem uma das populações mais numerosas e bem conservadas de Luciola lusitanica e é por isso que todos os anos, em Junho, é o palco  das “Noites dos Pirilampos”. É uma oportunidade ímpar para observar um comportamento único a que ninguém fica indiferente.

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