Ciclídeos do lago Tanganica, peixes que se adaptam a tudo

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O ciclídeo-imperador, que se pensa acasalar apenas uma vez, vigia os seus milhares de alevins. Os adultos podem alcançar 80 centímetros de comprimento e são os maiores entre as quase 250 espécies de ciclídeos endémicas do lago Tanganica.

A singular diversidade dos ciclídeos que habitam o lago mais antigo de África pode contribuir para desvendar os segredos da evolução.

Texto: Natasha Daly
Fotografias: Ángel Fitor

Os ciclídeos nada têm de banal. Só no lago Tanganica, na fronteira entre a África Central e a África Oriental, cerca de 250 espécies evoluíram a partir de um único antepassado há mais de 9,7 milhões de anos.

Alguns são do tamanho de bebés, outros não excedem o comprimento de um dedo mindinho. Alguns passam a vida em busca da concha perfeita e a defendê-la, ou a construir elaborados palcos de areia sobre os quais atraem as companheiras. Outros prosperam em haréns. Muitos são progenitores extremosos dos seus juvenis, embora, por vezes, devorem os seus próprios ovos. Num claro exemplo de diversificação explosiva, os ciclídeos adaptaram-se a quase todos os nichos do lago.

Os alevins de um Haplotaxodon microlepis procuram refúgio na boca da progenitora. À semelhança de outras espécies, ambos os progenitores fazem incubação bucal, abdicando de se alimentarem nessa fase. Os juvenis podem sair para se alimentar mas regressam à segurança da boca dos progenitores em caso de perigo. Mais tarde, demasiado crescidos para lhes caberem na boca, os juvenis aventuram-se sozinhos.

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Um Neolamprologus brevis emerge da sua casa (uma concha de búzio deserta) enquanto o seu companheiro monta guarda. “O que dita o seu comportamento é o territorialismo”, diz Angel Fitor, que fotografa ciclídeos no lago Tanganica há 20 anos. Para atrair uma companheira, os machos têm primeiro de assegurar a posse de uma concha vazia – um bem escasso – na qual o casal possa viver. A defesa da concha perante outros machos torna-se um trabalho a tempo inteiro.

Machos disputam uma concha num combate boca a boca. Quando lutam, os ciclídeos encaixam as mandíbulas um no outro, puxando e empurrando, até um deles desistir. Os ciclídeos estão sempre alerta. Para fotografá-los, é preciso permanecer horas a fio dentro de água. “Passei semanas em frente de uma concha, à espera de um peixe”, diz Fitor. “É uma loucura, eu sei!”

Para os ciclídeos de Cyathopharynx foae, o mundo inteiro é um palco. Este macho transportou 25 quilogramas de areia na boca, para construir uma arena de exibição com 66 centímetros de diâmetro. De manhã, quando o Sol brilha, ele dança vigorosamente sobre o seu palco, na esperança de atrair uma companheira. Dezenas de outros peixes fazem o mesmo para as fêmeas de passagem, que avaliam as danças e a arena de exibição onde os casais irão acasalar.

A maioria dos ciclídeos ali existentes não se encontra em mais lado nenhum, fornecendo pistas para desvendar os segredos da evolução. É uma tarefa urgente: os animais estão a extinguir-se, antes mesmo de descobrirmos como evoluíram.

Os peixes enfrentam ameaças múltiplas: o crescimento urbano degrada a sua água; a pesca com redes de emalhar esgota as populações. Os mais bonitos são cobiçados pelo comércio de peixes de aquário e muitos morrem durante o transporte.

O perito Walter Salzburger, da Universidade de Basileia, espera que o crescente interesse científico pelos peixes incentive esforços de conservação. “A protecção dos ciclídeos implica a protecção de todo o ecossistema deste lago ancestral”, diz.

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