Uma pantera negra descansa sobre um ramo de teca. As panteras negras são leopardos com uma mutação genética que causa a pigmentação escura da sua pelagem. Os padrões em forma de roseta continuam a ser visíveis no pêlo.
Na Reserva de Tigres de Nagarahole, os tigres e os leopardos prosperam como resultado dos esforços consolidados de conservação.
Texto: Yudhijit Bhatta Charjee
Fotografias: Shaaz Jung
Envolta em neblina, a floresta da Reserva de Tigres de Nagarahole, no estado de Karnataka, no sudoeste da Índia, parece um lugar encantado.
Um elefante desloca-se pesadamente entre a folhagem, alimentando-se de arbustos e folhas, com as suas orelhas gigantes a abanar, como que seguindo o ritmo de um metrónomo invisível. Mais à frente, na estrada de terra batida, um gauro, animal parecido com um búfalo, pasta num prado, sem sequer olhar na nossa direcção.
Guiados pelo fotógrafo Shaaz Jung, que vive numa cabana na floresta há 12 anos, seguimos em frente, detendo o veículo junto de uma manada de áxis. Um guarda-rios azul iridescente esvoaça entre as árvores. Enquanto a luz do sol corta a neblina, a tranquilidade é interrompida pela brama de um veado em som de fundo. É um sinal de alarme, avisando que existe um predador nas proximidades.







Este tipo de chamamentos é ouvido com cada vez mais frequência. Os tigres de Bengala e os leopardos-indianos abundam em Nagarahole. Os turistas afluem à reserva para um vislumbre destes grandes felinos, incluindo uma pantera negra (um leopardo com uma mutação que causa pigmentação escura) particularmente ousada. Esse felino, avistado com frequência, tornou-se uma estrela local.
“Geralmente, quando alguém faz um safari, perguntamos-lhe se viu um tigre”, diz a cientista Krithi Karanth, do Centro de Estudos de Vida Selvagem em Bengaluru (antiga Bangalore). “Agora, tomamos como adquirido que se avistou um tigre e perguntamos se avistaram a pantera negra.”
Menos de um décimo desta área protegida com 848 quilómetros quadrados está aberto aos visitantes. Na extremidade meridional, encontra-se o rio Kabini, com as suas margens povoadas por arbustos e ervas altas. Para lá dele, há prados e riachos e bosques densos. É o local perfeito para a coexistência de tigres e leopardos: os tigres vagueiam entre a vegetação e os leopardos descansam nas árvores, a salvo dos tigres.
A probabilidade de observar estes felinos aumentou significativamente na última década em Nagarahole e em muitas reservas de vida selvagem na Índia, graças ao sucesso dos esforços de conservação. O último censo de tigres em Nagarahole contabilizou 135 indivíduos, mais do dobro do que há uma década. O país tem agora quase três mil tigres em ambiente selvagem, segundo o último censo oficial, concluído em 2018. O número é 33% superior ao de 2014. O número de leopardos aumentou 62% desde 2014, para quase 13 mil. Um dos sinais do crescimento da população é o aumento de avistamentos de grandes felinos fora das fronteiras das reservas, o que também gera maior risco de conflitos com seres humanos. “Há tigres a viver em redor da minha casa, na região central da Índia”, conta a conservacionista Belinda Wright, fundadora da Sociedade de Protecção de Vida Selvagem da Índia.
Riley D. Champine e Taylor Maggiacomo. Fontes: Instituto de Vida Selvagem da Índia; Autoridade Nacional de Conservação dos Tigres; WWF; UICN; Worldpop; Forest Landscape Integrity Index; WDPA; Panthera; © Openstreetmap Contributors
O aumento dos números é encorajador para os conservacionistas porque os censos de tigres e leopardos são agora mais credíveis. Até 2006, o recenseamento de tigres da Índia, realizado a cada quatro anos, era mais um palpite com base num levantamento das pegadas – uma tarefa morosa executada por equipas que percorriam dezenas de milhares de quilómetros quadrados. O censo resulta agora de imagens captadas por armadilhas fotográficas que permitem a identificação individualizada dos tigres e dos leopardos devido aos seus padrões únicos de riscas ou manchas.
Vijay Mohan Raj, conservador-chefe das florestas de Karnataka, atribui o sucesso à eficácia no destacamento dos funcionários para vigilância dos caçadores furtivos dentro das reservas. Estes trabalhadores da linha da frente estão agora mais bem treinados e equipados devido ao aumento do financiamento governamental que se seguiu ao facto de a Índia se ter comprometido, em 2010, com um plano internacional para duplicar o número de tigres a nível mundial. “Esse tem sido o maior dissuasor para quem pretende entrar na floresta para caçar ilegalmente animais pela sua carne ou para apanhar lenha”, comenta. “Todas essas incursões pararam.”
Em função disso, a densidade de presas como veados e javalis aumentou, ajudando os tigres e leopardos a prosperarem. Em Nagarahole, os grandes felinos também parecem ter beneficiado de 26 furos artesianos com bombas alimentadas a energia solar, instalados junto de lagos, que assim se mantêm cheios até nos meses secos.
O futuro dos grandes felinos em Nagarahole e reservas congéneres depende, em parte, da minimização dos conflitos entre os animais e as comunidades vizinhas. Ao mesmo tempo que a competição por território nas reservas se intensifica, os tigres e os leopardos deambulam pelas aldeias com frequência, matando gado e, por vezes, seres humanos. Só em Karnataka, pelo menos nove pessoas foram mortas por tigres entre 2019 e 2021. Embora as receitas geradas pelo turismo dos grandes felinos estejam a aumentar, o dinheiro não ajudou os habitantes locais, diz Belinda Wright. “Por isso, eles não sentem benefícios pela presença dos tigres”, acrescenta. As autoridades indemnizam as pessoas que perdem gado devido aos tigres e afastaram algumas aldeias do território dos tigres, mas, na opinião dos conservacionistas, é preciso um esforço maior para dar às comunidades a sua quota-parte do sucesso das reservas. Caso contrário, as conquistas da última década poderão desaparecer.