Vacas Garvonesas

Fotografia inédita de Ricardo Guerreiro.

“Garvonesa – Reencontro com uma raça histórica” é a obra que o Ricardo Guerreiro “gostava de ter e não havia” nos escaparates, mas também “uma boa desculpa para voltar a passar tempo no campo a guardar gado em companhia dos poucos vaqueiros que ainda restam”. Na primeira pessoa, Ricardo conduz-nos pelo seu novo livro adentro.

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“Encantado por estes animais desde a infância”, Ricardo começou a documentar a raça garvonesa em 2012. Ligações afectivas e familiares pesaram no seu regresso ao Alentejo: até aos 14, passava quatro meses de férias por ano numa herdade dos avós em Garvão, concelho de Ourique, com acesso privilegiado a um solar [região de origem] de bovinos garvoneses.

Um ano após a reaproximação, a “National Geographic Portugal” publicava, na rubrica “Grande Angular”, as primeiras amostras de um projecto a longo prazo. Seguiram-se várias exposições em feiras do mundo rural, e é numa delas – a mítica Feira de Garvão – que vamos poder folhear pela primeira vez as 144 páginas de Garvonesa – Reencontro com uma raça histórica”.

De acordo com o autor, estamos perante uma colecção de “pequenas narrativas visuais acompanhadas de legendas curtas onde se retrata a vida e os comportamentos íntimos destes animais, enquadrando-os também no meio paisagístico e contexto de vida selvagem onde ocorrem”.

Em vésperas da publicação da “Garvonesa – Reencontro com uma raça histórica”, pedimos a Ricardo Guerreiro para escolher uma mão cheia de fotografias (incluindo imagens inéditas e de bastidores registadas por compagnons de route) e um breve comentário a cada uma delas. 

Nos próximos meses, fotografias de outras duas raças – uma do Alentejo e outra de Trás-os-Montes – encherão as páginas dos novos capítulos desta empreitada épica a que o fotógrafo se propôs: registar todas as raças autóctones do país com a sua câmara.

1. Sinais de boa adaptação e resiliência da garvonesa

Garvonesa

Fotografia inédita do autor.

“No pino do verão, depois do pasto bem rapado do chão, a rama de azinheiras e sobreiras é um complemento alimentar bem-vindo para os animais que a consigam alcançar.”

2. Um elo com os vaqueiros que restam

Garvonesa

Fotografia de Madalena Boto.

“Aqui, num belo fim de tarde em São Martinho das Amoreiras com o criador de garvonesas Manuel António Domingos, misturando o trabalho fotográfico com o reviver de experiências da juventude.”

3. A travessia de cursos de água para mudança de pastagens

Garvonesa

Fotografia inédita de Ricardo Guerreiro.

“A travessia de cursos de água para mudança de pastagens é um comportamento que pode ocorrer espontaneamente ou ser espoletado pelo vaqueiro.”

4. Bastidores: A travessia (paralela) do fotógrafo

Garvonesa

Fotografia de Madalena Boto.

“Quando tive oportunidade de fotografar [a travessia dos cursos de água] com a Garvonesa, os drones ainda eram uma miragem e, para obter uma perspectiva mais interessante e invulgar que não fosse tomada das margens da ribeira, tive de recorrer ao uso de um caiaque.”

5. Placentofagia, ou as razões para comer placenta após o parto

Garvonesa

Fotografia inédita de Ricardo Guerreiro.

“Após parir, uma vaca come a placenta. Há várias explicações propostas para este comportamento [placentofagia]. As principais são a reabsorção de nutrientes relevantes no pós-parto, o simples saciar de fome, ou a eliminação de vestígios do parto para ocultar de eventuais predadores o facto de haver uma nova e vulnerável presa na zona.”

6. No encalço do gado de corte em Rossas, Trás-os-Montes

Garvonesa

Além da Garvonesa, Ricardo estendeu o trabalho a outras raças Portuguesas. "Apesar de estar mais interessado em fotografar os animais no campo, acabou por ser numa corte [nome dado ao “estábulo” do gado vacum nas regiões nortenhas de Portugal] na aldeia de Rossas que fiz uma das fotografias preferidas da Mirandesa. A conjugação do ambiente escuro do interior da corte com a cabeça do animal a assomar à porta, ficando assim iluminada, foi óptima para destacar esta parte do corpo bastante característica nesta raça.”

7. O futuro da empreitada épica deste fotógrafo (também) passa pelos Açores

Garvonesa

Fotografia de Luís Quinta.

“Sei que a Ramo Grande, oriunda dos Açores, vai ser outra das raças que muito gosto me vai dar retratar. A mistura perfeita entre dois temas que me encantam – o gado bovino e o ambiente insular – vai com certeza fazer desta raça um sujeito muito interessante como fio condutor de uma história que cruza natureza, vida selvagem e cultura humana.”

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