João Vaz Corte-Real, primeiro capitão-donatário de Angra, instituiu ainda no final do século XV um hospital no local da antiga Ermida de Santo Espírito. A confraria viria a ser absorvida pela Casa da Misericórdia, que decidiu também fundar uma igreja. O templo actual remonta ao século XVIII. Uma das curiosidades é a possibilidade de descer às catacumbas.
Renascida das cinzas como a Fénix após o terramoto de 1980, Angra do Heroísmo encontrou forças para se tornar Património Mundial.
O início do povoamento da antiga ilha de Jesus Cristo, a terceira do arquipélago a ser descoberta, deverá ter ocorrido por volta de 1450 e o primeiro assento populacional localizou-se no Sul da ilha, numa baía recôndita no sopé do monte Brasil. A cidade foi sofrendo alterações ao longo dos séculos. O plano e o traçado das ruas obedeceram a formas quase geométricas e a urbe adquiriu um cunho renascentista, tornando-se um foco importante de comércio e de troca de culturas devido à sua posição estratégica a meio do Atlântico. Na carreira do Atlântico, a escala em Angra do Heroísmo assegurava um porto seguro, a oportunidade de reabastecimento e descanso nas viagens transoceânicas. Naturalmente, todo esse movimento gerou prosperidade e trouxe para a cidade todas as correntes de modernidade que percorriam o mundo.
Toda esta cidade, toda a sua herança e todo o seu património foram fortemente abalados no primeiro dia do ano de 1980.
Um violento sismo sacudiu a cidade, provocando inúmeros prejuízos materiais, mas reduzida mortalidade, pois tratando-se do primeiro dia do ano, muitos foliões celebravam então o Ano Novo fora de casa, afastados das casas que se transformariam em ruínas.
A recuperação de Angra do Heroísmo foi um dos marcos mais notáveis do envolvimento e colaboração das autoridades militares, as forças políticas e a sociedade civil. Os passos e as medidas de reconstrução foram rigorosa e meticulosamente estudados. Definiram-se os edifícios mais emblemáticos a recuperar e, a cada um deles, estava adstrito um raio de 50 a 100 metros, pelo que o restauro desse edifício-chave conduzia à reabilitação de tudo o que estava nesse raio de acção. Assim, passo a passo, quarteirão a quarteirão, a cidade foi-se reerguendo das cinzas.
A silhueta do monte Brasil domina a baía de Angra.
Volvidos três anos após o sismo, Angra do Heroísmo entrou, com distinção, para a lista do Património Mundial reconhecido pela UNESCO – o primeiro local nos Açores comessa distinção, aqueseseguiria mais tarde a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico.
Hoje, a cidade é uma jóia rutilante e um engodo para a vista. É harmoniosa, multicolor nas fachadas, cuidada, mimosa, com ruas calcetadas e passeios de calçada portuguesa com desenhos geométricos ou florais, varandas de ferro forjado imaculadamente pintado de verde, portas e janelas debruadas de cores caleidoscópicas.
O azul imenso do mar, da marina e do porto, avistáveis de quase todos os pontos, recordam constantemente a dimensão marítima da cidade. A arquitectura militar dos fortes de São Sebastião e de São João Baptista, as panorâmicas do monte Brasil, a elegância da Igreja da Misericórdia e da Sé Catedral, a harmonia da Praça Velha, o dédalo de ruas com casas, as mansões e os palácios convidam o viajante a prolongar a viagem, detendo-se nos pormenores arquitectónicos e no orgulho com que cada família trata da sua fachada.
A ilha distingue-se ainda pela sua animação, pela dinâmica festiva, pelas festas, pelas famosas touradas e pelo Carnaval. Ao longo dos anos, inspirou romancistas e poetas. O próprio Fernando Pessoa, filho de uma terceirense, escreveu aqui um dos seus primeiros poemas, aos 13 anos.
A não perder
Há inúmeras atracções na Terceira como a Gruta do Natal, o Algar do Carvão e a Caldeira Guilherme Moniz, lembretes da formação da ilha onde, além de Angra, existe outra cidade – Praia da Vitória – , berço do escritor Vitorino Nemésio.