Maravilhas naturais arrebatadoras que já não existem
1 de Março de 2023
JEFFERY PINE, PARQUE NACIONAL DE YOSEMITE. Este pinheiro morto e fustigado pelo vento no alto de Sentinel Dome, em Yosemite, tornado famoso por Ansel Adams, caiu finalmente em 2003. A pitoresca árvore californiana foi uma das mais fotografadas do mundo, aparecendo em placas fotográficas com datas tão distantes como a década de 1860. Fotografia de Harald Sund, Getty Images.
Desde ilhas inteiras a formações rochosas famosas, alguns marcos icónicos fazem agora parte do passado. Porém, nunca é demasiado tarde para ver e apreciar aqueles que ainda restam.
Texto: Meghan Miner Murray
As paisagens moldam a nossa percepção dos locais, mas a Terra está em permanente mudança. As forças do vulcanismo, do vento, da água, do Sol e, sim, das pessoas conspiram inexoravelmente para transformar aquilo que consideramos terreno familiar – abatendo falésias sobre a praia, erodindo enormes desfiladeiros, formando terra nova com lava incandescente e mudando o curso de rios poderosos.
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Praticantes de parapente, surfistas, pescadores e uns quantos visitantes privilegiados ficaram desolados quando, em 2016, um dos dois arcos gémeos desta praia sucumbiu ao peso da enorme falésia que se erguia sobre ele. O refúgio cor de ferrugem nos arredores de Sidi Ifni, em Marrocos, era um destino popular para ver o pôr-do-sol. Existe um cenário semelhante nas formações jurássicas de Ladram Bay, em Devon, Inglaterra. Fotografia de Zzvet, Getty Images
As gorgónias Mopsella são um de muitos tipos de coral que adornam os contornos da Ilha Christmas, o maior atol de coral do mundo e um local de mergulho popular na Austrália. Em 2016, o aumento das temperaturas do mar causado pelas tempestades El Niño desencadeou a morte de uns estimados 80 por cento dos corais. No final de 2020, porém, os investigadores começaram a ver sinais de renovação da vida, um “vislumbre de esperança” que sugere que a protecção contra os agentes de stress local pode dar ao coral lixiviado tempo para se regenerar. Waterframe/Alamy
O “túnel na árvore” de Pioneer Cabin, uma árvore com 1.000 anos, foi um de vários túneis abertos nas gigantescas árvores da Califórnia para inspirar o turismo de natureza em finais do século XIX. Era a última sequóia gigante com uma passagem no tronco, na qual cabia um carro, quando caiu em Janeiro de 2017. Três sequóias vermelhas continuam a permitir esta experiência nos arredores da cidade de Eureka. Fotografia de B Christopher, Alamy Stock Photo
Há menos apóstolos no Parque Nacional Marinho dos Dozes Apóstolos, na Austrália. Em 2005, uma das maiores e mais elaboradas formações marinhas costeiras desfez-se em pó diante do olhar de uma família. Uma segunda pilha desabou em 2009. Vestígios de falésias erodidas, as seis estruturas remanescentes são vulneráveis à forte rebentação das ondas. Fotografia de David Noton Photography/Alamy Stock Photo
Em 2005, o primeiro ciclone a assolar as Ilhas Canárias, em Espanha, nos últimos 150 anos derrubou El Dedo de Dios (Dedo de Deus), uma formação semelhante a uma agulha que apontava para cima, sobressaindo de uma “mão” rochosa. Fotografia de David Robertson, Alamy Stock Photo
No dia 17 de Maio de 2021, esta famosa ponte natural com o nome do biólogo inglês colapsou no oceano Pacífico devido à erosão, segundo o Ministério do Ambiente do Equador. Popular entre os turistas, que o visitam em navios de cruzeiro, este local, que é Património da Humanidade da UNESCO, está repleto de fauna marinha desde mantas a tubarões-baleia e tartarugas-de-pente. Fotografia de Rodrigo Friscione, Alamy
O cume do Evereste, no Nepal, tornou-se um pouco mais fácil de alcançar no final de Maio de 2017 quando um enorme rochedo situado a cerca de 60 metros do topo desapareceu. Os especialistas pensam que o íngreme “Degrau de Hillary” — assim denominado em homenagem a Sir Edmund Hillary, que lhe chamou uma das partes mais desafiantes da montanha – se soltou devido a um terramoto ocorrido em 2015. Fotografia de Bradley Jackson, Getty Images
Em 2017, na Nova Zelândia, as paredes rochosas das piscinas naturais de água quente de Sylvia Flats, junto ao rio Lewis, de águas mais frias, foram destruídas por um deslizamento de terras. Felizmente, outras piscinas termais alguns quilómetros a norte – como Maruia Hot Springs, na Reserva Cénica de Lewis Pass — ainda permitem mergulhos quentes. Fotografia de Alexeys, Getty Images
Cerca de 200 toneladas de rocha caíram da Rocha do Elefante, em New Brunswick, na Primavera de 2016, transformando um olho mágico numa pilha de detritos. O local cénico no parque provincial de Hopewell Rocks era uma das paragens mais populares entre aqueles que viajam nas vastas águas da Baía de Fundy, no Canadá. A zona perdeu outro marco em Fevereiro de 2022, quando Flower Pot Rock desabou durante uma forte tempestade. Fotografia de Mike Grandmaison, Getty Images
As ilhas mais baixas do Pacífico têm sofrido com os problemas causados pelo aumento do nível dos mares. Em 2016, cinco das Ilhas Salomão foram engolidas pelas águas e as vizinhas ilhas Nuatambu podem ser as próximas. Os seus residentes têm-se realojado à medida que a ilha sucumbe lentamente. Mais de metade das suas terras habitáveis já se perderam. Fotografia de Lonely Planet Images/Getty Images
Na Primavera de 2017 desapareceu, aparentemente de um dia para o outro, um rio inteiro no território canadiano do Yukon. O culpado foi o recuo do enorme glaciar Kaskawulsh, cujas águas deo degelo se desviaram do rio Slims para alimentar outra via fluvial. Os cientistas chamaram-lhe o primeiro caso de “pirataria fluvial” dos tempos modernos. Estas mudanças também estão a reduzir o tamanho do maior lago do Yukon. É possível ver o recuo das margens do Lago Kluane junto à auto-estrada 1 do Alasca e a partir de alguns locais do Parque Nacional e Reserva de Kluane. Fotografia de Alan Majchrowicz, Getty Images
Um homem observa o que resta do glaciar Chacaltaya nesta fotografia captada a 26 de Outubro de 2009. O glaciar com 18.000 anos derreteu nesse ano, encerrando a estância de esqui do topo da montanha, outrora considerada a mais alta do mundo. Os cientistas bolivianos tinham previsto que o glaciar derreteria até 2015, mas o aumento rápido das temperaturas causado pelas alterações climáticas acelerou esse processo. Fotografia de Anders Birch, Redux
Numa noite de Agosto de 2008, quando o precário segmento de arenito Entrada, com 21 metros de comprimento, no topo do “Wall Arch” no Parque Nacional de Arches, cedeu, um grupo de campistas que se encontrava ali perto disse ter ouvido um ribombar sonoro apesar do céu limpo. O parque do estado do Utah ainda conta ainda com muitas outras formações frágeis entre as suas atracções, incluindo a formação em blocos de Vultee Arch, uma ponte vermelha e isolada com 15 metros de comprimento. Fotografia de Shearman, Getty Images
O super salgado Mar Morto ainda não desapareceu, mas está a encolher a uma velocidade alarmante. Os níveis da água desceram mais de um metro por ano nos últimos anos, provocando o surgimento de milhares de dolinas que assinalam uma crise iminente de falta de água na região. Fotografia de Nickolay V, Getty Images
Foram necessárias milhares de tempestades para abrir a Janela Azul nas falésias de arenito da ilha de Gozo, em Malta, mas apenas uma para a eliminar. O local icónico da baía de Dwejra era uma das atracções naturais mais populares desta ilha-nação – até figurou brevemente na série Guerra dos Tronos, da HBO, antes de desabar em Março de 2017. Para ver outros impressionantes arcos do ponto de vista de quem apanha sol à beira-mar, visite a costa das Falésias Brancas de Étretat, na região francesa da Normandia. Até poderá caminhar sob a impressionante Falaise Aval na maré baixa. Fotografia de Jin Yu, Xinhua/Redux
Um dos mais antigos carvalhos da América do Norte morreu num cemitério em Basking Ridge, Nova Jersey, em 2017. Alegadamente, esta enorme árvore deu sombra aos piqueniques de George Washington e já teria cerca de 80 anos quando Colombo chegou à América. Fotografia de Bryan Anselm, The New York Times/Redux
A única acácia a sobreviver no deserto do Saara, a cerca de 400 km da sua vizinha mais próxima, a Árvore Ténéré tornou-se um marco local na década de 1930 antes de ser alegadamente derrubada por um condutor embriagado. Uma escultura em metal (imagem acima) ergue-se agora no seu lugar. Outra árvore do deserto suficientemente importante para aparecer num mapa vazio era o Baobá de Chapman, uma “árvore correio” no Botswana, gravada com anotações e marcações dos primeiros europeus, como David Livingstone. Infelizmente a árvore caiu em 2016. Fotografia de Uig/Getty Images
Um misterioso perfil do Parque Estadual de Franconia Notch, em New Hampshire, já não parece um “Velho da Montanha”, embora um monumento de estruturas em aço tenha ajudado recriar a ilusão do seu rosto, visível a partir de um espaço amplo mais abaixo (com alguma imaginação). Fotografia de Garry Black, Alamy Stock Photo
No início da década de 1990,cerca de 150 casas na popular praia de areias negras de Kaimu perderam-se quando um fluxo de lava que se deslocava lentamente engoliu a aldeia de Kalapana, no Hawai. O vulcão Kilauea continua em erupção e, até à data, já acrescentou mais de 200 hectares de terra à grande ilha. É possível ver os novos trechos criados pela lava em excursões de barco que partem de Pahoa. Fotografia de Douglas Peebles, Getty Images
Embora poucos seres humanos tenham postos os olhos nos penhascos gelados da plataforma de gelo Larsen C, na Antárctida, os satélites mostraram quando um pedaço desta, do tamanho do Delaware, se soltou e ficou à deriva no Oceano Austral. A separação de icebergues não é nada de novo, mas mudanças tão drásticas como esta são certamente raras. Fotografia de Nasa/Redux
Com efeito, a mudança é a única constante – uma ideia saída da mente do filósofo grego Heráclito no século V a.C., repetida desde então pelos filósofos. No entanto, as pessoas esquecem-se frequentemente de que Heráclito acreditava que o medo da mudança também é uma constante. Talvez seja esta sensação de impermanência iminente que compele os viajantes a visitarem maravilhas naturais antes que elas mudem para sempre.
Nos últimos 50 anos, centenas de marcos naturais de todo o mundo mudaram drasticamente de forma – ou, pior ainda, desapareceram. Recentemente, o Arco de Darwin, nas Ilhas Galápagos, desabou no mar, juntando-se a outras estruturas com o “Wall Arch” no Parque Nacional de Arches, ou a “Janela Azul”, em Malta, que se perderam para a história. Mostramos-lhe alguns marcos que já não existem e alguns locais frágeis que ainda pode visitar – de forma responsável.