Montenegro

Os mosteiros das ilhotas de São Jorge e Nossa Senhora das Rochas são visíveis ao largo da costa de Perast, em Montenegro. Mais de cinquenta mosteiros desde pequeno país estão abertos ao público. Fotografia de Kurt Henseler, Laif/Redux.

Longe dos circuitos comerciais, estes mosteiros oferecem uma forma contemplativa de explorar as deslumbrantes orlas costeiras, montanhas acidentadas e lagos azul-turquesa deste país situado à beira do Mediterrâneo.

Texto: Kimberley J. Graham

Um país do tamanho de metade do Alentejo, Montenegro encontra-se há séculos na encruzilhada entre o Oriente e o Ocidente. O seu distinto legado espiritual atrai milhares de peregrinos.

Muitos dos mil sítios religiosos cristãos e muçulmanos de Montenegro encontram-se abandonados devido a conflitos, desde a Primeira Guerra Mundial às guerras dos Balcãs. No entanto, mais de cinquenta dos seus mosteiros cristãos permanecem em funcionamento e estão abertos ao público. Alguns tiveram um renascimento nas últimas décadas, graças a jovens comunidades monásticas que revitalizaram sítios negligenciados. Outros persistem devido à dedicação de um único monge residente.

Tendo como plano de fundo lagos azul-turquesa, orlas costeiras dramáticas e montanhas acidentadas, os mosteiros de Montenegro oferecem vislumbres de outra era aos visitantes. Possuem frescos elaborados e os seus estilos arquitectónicos variam desde o Bizantino ao Otomano. Saiba como conhecer alguns deles.

Montenegro, uma terra de guerra

“Montenegro tem um legado cultural muito interessante, que não se encontra em nenhum outro país da Europa”, diz Adnan Prekić, professor de história da Universidade de Montenegro.

Em 100 a.C., o império romano absorvera completamente os Balcãs, incluindo o actual Montenegro, nas suas províncias. Em 395 d.C., Montenegro era a linha divisória entre o Oeste, predominantemente católico, e a ortodoxia oriental do Império Bizantino, a leste. Com a chegada dos eslavos, no século VII, a ortodoxia oriental dominou rapidamente a região.

Depois de se libertar do império sérvio em 1455, Montenegro tornou-se um dos últimos estados livres dos Balcãs. Nos séculos seguintes, porém, foi ocupado pelos venezianos e os otomanos, que consigo trouxeram o Islão. Tudo isto afectou a arquitectura e a história da região.

Mosteiro de Ostrog

Fundado no século XVII como um local de escape aos otomanos, o mosteiro de Ostrog é uma proeza arquitectónica. Esculpido na vertente rochosa de Ostroška Greda, junto à minúscula aldeia de Dabojevići, a fachada branca da estrutura conta com frescos elaborados com folha de ouro, num acentuado contraste com a montanha de pedra.

mosteiro de Ostrog

Construído em 1665 no interior de duas grandes grutas na vertente rochosa de Ostroška Greda, em Montenegro, o mosteiro de Ostrog parece desafiar a gravidade. É dedicado a São Basílio de Ostrog, que se encontra sepultado no seu interior. Fotografia de Clemens Zahn, Laif/Redux.

O mosteiro tem duas secções ligadas por um íngreme trilho que atravessa uma floresta. A zona inferior aloja a igreja da Santíssima Trindade, onde os visitantes podem admirar frescos vibrantes.

Todos os anos, milhares de peregrinos sobem, rastejando ou caminhando descalços, o trilho até à zona superior do mosteiro de Ostrog, onde rezam diante das relíquias de São Basílio (1610-1671), conhecido localmente como “fazedor de milagres”. O corpo do santo é guardado por um sacerdote e encontra-se coberto por uma manta bordada.

“As pessoas acreditam que se forem ao mosteiro de Ostrog e rezarem em frente ao corpo de São Basílio, os seus desejos serão atendidos e as suas doenças serão [curadas]”, diz Marianne van Twillert, autora de “Montenegro off the Beaten Track—21 Adventurous Road Tours”. “Isto é muito popular, não apenas entre a população local, mas entre o povo muçulmano e católico. Todos acreditam nos milagres de São Basílio.”

Todos os anos, no dia doze de Maio, os peregrinos celebram a sua morte, embarcando numa peregrinação de quarenta quilómetros, da capital Podgorica até Ostrog.

Mosteiro de Beška

Mais de duas dezenas de abadias medievais pontilhavam as ilhas do lago Skadar no tempo da dinastia Balšić, nos séculos XIV e XV. A região foi fortemente influenciada por monges gregos do Monte Athos, um centro espiritual ortodoxo. As abadias prosperaram até ao século XIX, quando a ocupação turca destruiu a maioria delas. Restam hoje cerca de dez sítios ortodoxos.

mosteiro de Beška

Abandonado durante quase quatrocentos anos, o mosteiro de Beška, situado numa ilha com o mesmo nome num lago Skadar, foi ressuscitado por uma comunidade de freiras. Fotografia de Georg Knoll, Laif/Redux.

Os turistas podem explorar esta história no mosteiro de Beška, situado numa pequena ilha junto à margem ocidental do lago. O santuário esteve abandonado durante quase quatrocentos anos, mas um grupo de freiras começou a reanimá-lo há uma década. Contém duas igrejas, incluindo a Igreja de Santa Maria, com vestígios de frescos gregos bizantinos e eslavos.

As freiras também estão a ressuscitar artes como o fabrico de ícones, pintando imagens religiosas sobre painéis de madeira. Estes objectos de devoção são vendidos aos visitantes e as receitas contribuem para a manutenção do espaço.

Igreja de Nossa Senhora das Rochas

Centenas de turistas aventuram-se até a cidade veneziana de Perast para ver a pequena igreja da cúpula azul flutuando na baía de Kotor.

Segundo o folclore local, em 1452, dois irmãos (um deles com ferimento na perna) viram aqui um ícone da Madona e o Menino, numa saliência rochosa sobre o mar. Levaram a rocha para casa e foram dormir. Na manhã seguinte, o ícone tinha desaparecido e a perna do irmão ferido estava curada. Acreditando que era uma mensagem divina, os autóctones erigiram um santuário à Madona, empilhando rochas para formar uma pequena ilha no local onde o ícone foi encontrado.

igreja de nossa Senhora das Rochas

Objectos religiosos utilizados durante rituais como a Santa Comunhão são guardados nesta sala na igreja de nossa Senhora das Rochas, em Perast, em Montenegro. Fotografia de Panther Media Gmbh, Alamy Stock Photo.

Trinta e dois anos após a descoberta do ícone, a cidade construiu uma igreja ortodoxa na ilha. Em 1630, a igreja católica romana reclamou o sítio e construiu uma nova capela no local da original.

Actualmente, a Igreja de Nossa Senhora das Rochas contém mais de 2.500 placas de prata doadas por marinheiros que atribuem o seu regresso em segurança do mar à protecção da Madona. As suas paredes e tectos estão decorados com 68 frescos de Tripo Kokolja, um famoso artista barroco nativo de Perast.

igreja de nossa Senhora das Rochas

Uma ilha artificial construída na baía de Kotor, junto à cidade de Perast, alberga a igreja histórica de nossa Senhora das Rochas. Fotografia de Ghi, Education Images/Universal Images Group/Getty Images.

Um museu adjacente contém artefactos ilírios descobertos nas redondezas, pinturas de navios locais e uma tapeçaria denominada “amor e fé”, tecida pela artista local Jacinta Kunić-Mijović. Confeccionada ao longo de vinte e cinco anos enquanto esperava que o seu marido marinheiro regressasse de viagem, mostra a Madona e o Menino em seda e fios de prata, ouro e de cabelo da prova de artista.

Desde 1938, que a cidade celebra a Fašinada a 22 de Julho, para assinalar a descoberta do ícone pelos irmãos. Os residentes decoram barcos com fitas e flores, enchem-nos com pedras e afundam-nos à volta da ilha.

Kimberley J. Graham é escritora freelance e escreve sobre viagens, animais selvagens e ambiente.

A saber:

Mosteiro de Beška: Excursões privadas de barco partem de Virpazar, uma localidade a cinquenta minutos de Podgorica, a capital de Montenegro.

Mosteiro de Ostrog: É habitual trazer uma oferenda, como sabão ou cobertores, para os monges e deixá-la nos cestos que se encontram à entrada do santuário.

Igreja de Nossa Senhora das Rochas: Os barcos partem de Perast ou Kotor. A entrada no museu custa cerca de noventa cêntimos (à data de hoje).

Devem-se usar roupas recatadas, que cubram os ombros e os joelhos, quando se visita os mosteiros.

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