Visigótico em Portugal

Uma das salas visigóticas com vasto espólio recolhido na região.

Patrocinado pela família real, o Convento da Conceição é o mais rico de todo o Alentejo, mas é na sua Igreja de Santo Amaro que o legado visigótico se sente com mais intensidade.

Texto: Paulo Rolão
Fotografias: António Cunha/ Cortesia Museu Rainha Dona Leonor

Fundado pelos netos de Dom João I, o infante Dom Fernando e sua prima e esposa Dona Brites (ou Beatriz), o convento foi construído em 1459 e destinado à ordem das franciscanas de Santa Clara sob a designação de Real Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição. Em 1470, contudo, a morte surpreendeu Dom Fernando e foi Dona Brites quem se encarregou da continuação dos trabalhos, com o auxílio dos filhos, Dona Leonor, futura rainha, e Dom Manuel, o futuro Rei Venturoso da chegada à Índia.

visigótico

Implantada sobre uma antiga necrópole romana, a obra beneficiou da imensa colecção de um padre erudito e apaixonado pela Antiguidade. Frei Manuel do Cenáculo foi o pai informal da arqueologia alentejana, recolhendo uma quantidade considerável de obras de arte, algumas integrando a própria estrutura do edifício. Juntou-as por critérios mais antiquaristas do que históricos, mas foi um dos principais responsáveis pela preservação de importantes vestígios. O acervo é constituído por valiosas colecções arqueológicas e artísticas, abarcando a Pré-História, a Idade do Ferro (com a magnífica estela da abóbada), aromanização, a ocupação árabe e o mais vasto espólio de arte visigótica que se encontra exposto na dependência da Igreja de Santo Amaro. Este núcleo é a concretização do sonho de diversos artistas e estudiosos que defenderam a existência de um núcleo visigótico no Museu Regional de Beja Rainha Dona Leonor. A sua criação obedece a uma lógica histórica, uma vez que a Igreja de Santo Amaro foi fiel depositária de registos romanos, paleocristãos e medievais, embora tenha sofrido diversas renovações desde a sua edificação no século XV.

Visigótico em Portugal

O frontão de Trigaches, a espada e as jóias da sepultura enigmática e o fuste de uma coluna.

Os capitéis que servem de pano de fundo para a exposição de peças e utensílios característicos da mesma era artística, com datação dos séculos VI a VIII, mantém-se in loco, como zeladores atentos de um período que foi caindo no esquecimento. Com o tempo, o núcleo foi enriquecido com peças de ourivesaria e elementos arquitectónicos provenientes de escavações na região.

O tesouro da colecção é a espada de um guerreiro, recuperada no início do século XX numa sepultura das imediações do Convento de Santa Clara de Beja. É um testemunho de uma época violenta e de combates na Lusitânia pelo controlo da província. Repousa hoje em Beja, no coração de um dos mais especiais museus portugueses.

mapa núcleo visigótico

Núcleo Visigótico 

Largo de Santo Amaro, Beja        

Horário: 10h – 12h30 / 14h – 17h (3.ª feira a domingo)  

Contacto: Tlf.: +284 323 351

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