ilha da berlenga

O Forte de São João Baptista.

Em dias límpidos, quando o nevoeiro abandona a costa de Peniche, da arriba do cabo Carvoeiro avista-se ao longe, no horizonte, a ilha da Berlenga.

Texto: Helena Abreu

Haverá poucos que não fiquem fascinados pela imagem desta pequena ilha cujo recorte se destaca no horizonte. Dela contam-se histórias de piratas e monges, invasões e soldados valentes. A mais conhecida será a do cabo Avelar Pessoa, o soldado que defendeu, quase até à morte, o Forte de São João Baptista dos invasores espanhóis durante a Guerra da Restauração. É com este nome que o navio Cabo Avelar Pessoa assegura, desde 1958, a ligação marítima entre Peniche e a ilha da Berlenga, embora existam outros operadores turísticos, com embarcações mais pequenas e rápidas, que fazem a viagem em 30 minutos.

Para conhecer a ilha, sobe-se. Aliás, na ilha é tudo a subir ou... a descer. Saindo do cais, a primeira paragem é no bairro dos pescadores que, no Verão, abriga as gentes da pesca e os “berlengueiros” veraneantes.

Na primeira curva, o Carreiro dos Cações, uma língua de água que entra terra adentro, quase separa a ilha em duas: a Ilha Velha e a Berlenga. Do lado oposto, espraiam-se o Carreiro do Mosteiro e a minúscula praia de água muito azul.

No céu, voam gaivotas-de-patas-amarelas que invadiram a ilha e cuja população é uma ameaça para outras espécies de aves. Com atenção, poderá ver outras aves: corvos-marinhos-de-crista, pardelas-de-bico-amarelo. Na ilha, nidifica também a gaivota-de-asa-escura, o rabirruivo e o falcão-peregrino. Nas encostas, vivem coelhos-bravos, ratos-pretos, lagartixas de Carbonell (uma espécie endémica) e lagartos-ocelados.

No topo da subida, encontra-se o farol, que assinala a localização da ilha a 30 milhas de distância. Ocasionalmente, os dois faroleiros proporcionam visitas à estrutura. Seguindo a bifurcação do trilho, segue-se para o Forte de São João Baptista. É preciso descer muitos degraus até chegar à ponte que liga a estrutura a terra. Da zona superior das muralhas, obtém-se uma boa panorâmica da ilha, da rocha do Cavalete e da baía.

No segmento da Ilha Velha, o trilho conduz ao Melreu, um miradouro natural com uma vista soberba. Mais à frente, ficam as Buzinas, de onde se avista Peniche e a ilhota do Cerro da Velha. O caminho segue em direcção ao ponto mais alto. Dali vêem-se as ilhotas e rochedos mais próximos: o Ilhéu da Ponta, o Ilhéu do Meio e o Ilhéu Maldito...

Vale a pena uma visita de barco para conhecer a Gruta Azul, a Gruta da Lagosteira, a Gruta da Flandres, a Gruta da Inês, a Gruta do Brandal ou a Gruta da Muxinga. Os topónimos reflectem velhas lendas e histórias quase esquecidas. Inesquecível também éa travessia do Furado Grande, um túnel com 70 metros de comprido e mais de 20 de altura que conduz à Cova do Sono. Para os mergulhadores, a ilha tem também inúmeras atracções: a abundante fauna marinha inclui abróteas, polvos, lavagantes, sargos, salemas, safias, cações e, ocasionalmente, golfinhos. As grutas subaquáticas e os destroços são outros pontos de interesse.

O Centro Interpretativo e de Apoio aos Visitantes ajuda a conhecer a ilha da Berlenga e o arquipélago das Berlengas, constituído pela Berlenga Grande, Estelas e Farilhões-Forcados, classificada em 2011 como Reserva da Biosfera da Unesco.

Com a viagem a terminar, é tempo de aproveitar um mergulho. A praia mais acessível é a do Carreiro do Mosteiro.O mar transparente e a vida marinha fazem esquecer a temperatura da água. A Berlenga pode parecer tropical, mas não no que diz respeito à temperatura da água do mar!

Na hora da despedida, no topo, na casa mais alta do Bairro dos Pescadores, repete-se o ritual. Levantam-se as toalhas e o vento leva a despedida de sempre: “Adeus, adeus, até à volta.”

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